Luana Santahelena

O que não vi em você

Quanto tempo deixei

nas gavetas do sonho,

quanta vida escapou

sem deixar bilhete.

É melhor não voltar lá.

 

Achava que lia o mundo

como quem decifra mapas no escuro —

mas flutuava,

sem norte,

sem céu.

 

Hoje, vejo o que não via:

quem sabe menos

às vezes enxerga mais.

Meus olhos, cheios de certezas,

eram cegos.

 

Fugia dos conselhos

como quem pula cercas

num campo aberto.

Queria correr solto,

num mundo feito à mão.

Só ouvia a minha voz —

e a tua ausência

vestida de presença.

 

Agora, meus passos

não sabem onde pousar.

Meus dias

têm o gosto seco do eco.

Não vivo —

apenas ando.

 

Pensei que sabia tudo.

Mas no fim,

nunca soube

quem você era.

Nem quem eu fui

ao teu lado.