Quanto tempo deixei
nas gavetas do sonho,
quanta vida escapou
sem deixar bilhete.
É melhor não voltar lá.
Achava que lia o mundo
como quem decifra mapas no escuro —
mas flutuava,
sem norte,
sem céu.
Hoje, vejo o que não via:
quem sabe menos
às vezes enxerga mais.
Meus olhos, cheios de certezas,
eram cegos.
Fugia dos conselhos
como quem pula cercas
num campo aberto.
Queria correr solto,
num mundo feito à mão.
Só ouvia a minha voz —
e a tua ausência
vestida de presença.
Agora, meus passos
não sabem onde pousar.
Meus dias
têm o gosto seco do eco.
Não vivo —
apenas ando.
Pensei que sabia tudo.
Mas no fim,
nunca soube
quem você era.
Nem quem eu fui
ao teu lado.