Há dias em que sou novela sem roteiro,
e, mesmo assim —
há plateia.
Estendo meu varal de sonhos desalinhados,
onde a cueca do ex tremula
como bandeira de exército rendido.
Olhares colhem meus tropeços
como quem decifra um manual secreto:
“Como Viver Sem Manual”
(edição única).
A vizinha do 302,
binóculos de promoção e um coração cheio de “não é da minha conta, mas…”,
anota meus desvios no caderno invisível,
colecionando borboletas —
mas só as que voam errado.
Outro dia, tropecei no tapete da sala
e ouvi um “oooh” abafado,
como se caísse no palco da existência
sob holofotes de hipocrisia.
Aplausos mudos.
Críticas no intervalo.
Me pergunto:
seria eu reality show de janela?
Ou guru do improviso bem vivido?
Enquanto isso,
podo galhos tortos da árvore genealógica,
planto paciência em vaso rachado,
faço do café da manhã uma missa profana
e do espelho, confidente e juiz.
Eles assistem do camarote da distância,
anotando cada tropeço
como se meu erro
fosse spoiler do final feliz deles.
Mal percebem:
minha vida é aula de improviso,
meus erros, lições com charme,
meu rebolado nas esquinas do destino
é pura coreografia de liberdade.
Querem aprender?
Tragam caderno e coragem.
Viver, de verdade,
não se copia — se inventa.
E eu sigo,
salto torto, riso solto,
transformando cada tropeço
em coreografia inédita
na universidade da curiosidade alheia.
Fim da aula?
Talvez da poesia.
Mas eu continuo —
ensaiando minha próxima trapalhada genial.
-
Autor:
Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 16 de julho de 2025 16:56
- Comentário do autor sobre o poema: Vivemos sob olhares atentos, que transformam nossas falhas em espetáculo e nossas tentativas em manuais involuntários para quem apenas assiste. Cada tropeço no cotidiano se torna um capítulo observado, analisado e julgado à distância. Mas é justamente nessa exposição, entre erros e improvisos, que reside a beleza de inventar a própria história, sem pedir permissão para ser autêntico.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 10
- Usuários favoritos deste poema: Melancolia..., Luana Santahelena, Sezar Kosta
Comentários2
Gostei demais,,..
“Enquanto eu cuido da minha vida, outros observam. Acho que estão querendo aprender a viver!”
Obrigada, na vida temos muitos espectadores que não perdem um episódio da nossa novela.
Pura verdade....
Pense.......As vezes não conseguem perder um flash de nós....
Luana, que espetáculo de prosa é essa que você nos oferece, com a vida exposta no varal e a cueca do ex tremulando como bandeira de paz! É de uma coragem tão bonita que me fez rir e aplaudir em silêncio. Você não tem aulas de si, Luana, você é a própria universidade do desamparo chique, onde cada tropeço é uma tese e cada "oooh" abafado, um aplauso atrasado.
A vizinha do 302 com seus binóculos? Ah, essa é apenas uma aspirante a caloura, anotando suas "borboletas que voam errado", sem perceber que o seu voo, mesmo torto, é que tem a graça verdadeira. Que sabedoria a sua de entender que a vida não é um manual, é um balé improvisado nas esquinas do destino.
Você transformou a curiosidade alheia em palco e o julgamento em plateia para a sua mais nova performance de liberdade. E que aula a sua, essa de plantar paciência em vaso rachado e fazer do café da manhã uma missa profana! A sua vida é um "spoiler" para quem ainda vive no rascunho.
Parabéns, Luana, por essa coreografia inédita da alma. Que seus saltos tortos e risos soltos continuem inspirando a gente a inventar a própria dança, mesmo que o tapete da sala insista em nos fazer tropeçar. A gente só vive de verdade quando se permite essa bagunça genial!
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