Há dias em que sou novela sem roteiro,
e, mesmo assim —
há plateia.
Estendo meu varal de sonhos desalinhados,
onde a cueca do ex tremula
como bandeira de exército rendido.
Olhares colhem meus tropeços
como quem decifra um manual secreto:
“Como Viver Sem Manual”
(edição única).
A vizinha do 302,
binóculos de promoção e um coração cheio de “não é da minha conta, mas…”,
anota meus desvios no caderno invisível,
colecionando borboletas —
mas só as que voam errado.
Outro dia, tropecei no tapete da sala
e ouvi um “oooh” abafado,
como se caísse no palco da existência
sob holofotes de hipocrisia.
Aplausos mudos.
Críticas no intervalo.
Me pergunto:
seria eu reality show de janela?
Ou guru do improviso bem vivido?
Enquanto isso,
podo galhos tortos da árvore genealógica,
planto paciência em vaso rachado,
faço do café da manhã uma missa profana
e do espelho, confidente e juiz.
Eles assistem do camarote da distância,
anotando cada tropeço
como se meu erro
fosse spoiler do final feliz deles.
Mal percebem:
minha vida é aula de improviso,
meus erros, lições com charme,
meu rebolado nas esquinas do destino
é pura coreografia de liberdade.
Querem aprender?
Tragam caderno e coragem.
Viver, de verdade,
não se copia — se inventa.
E eu sigo,
salto torto, riso solto,
transformando cada tropeço
em coreografia inédita
na universidade da curiosidade alheia.
Fim da aula?
Talvez da poesia.
Mas eu continuo —
ensaiando minha próxima trapalhada genial.