Luana Santahelena

Aulas de Mim, Só com Olhar

Há dias em que sou novela sem roteiro,

e, mesmo assim —

há plateia.

 

Estendo meu varal de sonhos desalinhados,

onde a cueca do ex tremula

como bandeira de exército rendido.

Olhares colhem meus tropeços

como quem decifra um manual secreto:

“Como Viver Sem Manual”

(edição única).

 

A vizinha do 302,

binóculos de promoção e um coração cheio de “não é da minha conta, mas…”,

anota meus desvios no caderno invisível,

colecionando borboletas —

mas só as que voam errado.

 

Outro dia, tropecei no tapete da sala

e ouvi um “oooh” abafado,

como se caísse no palco da existência

sob holofotes de hipocrisia.

Aplausos mudos.

Críticas no intervalo.

 

Me pergunto:

seria eu reality show de janela?

Ou guru do improviso bem vivido?

 

Enquanto isso,

podo galhos tortos da árvore genealógica,

planto paciência em vaso rachado,

faço do café da manhã uma missa profana

e do espelho, confidente e juiz.

 

Eles assistem do camarote da distância,

anotando cada tropeço

como se meu erro

fosse spoiler do final feliz deles.

 

Mal percebem:

minha vida é aula de improviso,

meus erros, lições com charme,

meu rebolado nas esquinas do destino

é pura coreografia de liberdade.

 

Querem aprender?

Tragam caderno e coragem.

Viver, de verdade,

não se copia — se inventa.

 

E eu sigo,

salto torto, riso solto,

transformando cada tropeço

em coreografia inédita

na universidade da curiosidade alheia.

 

Fim da aula?

Talvez da poesia.

Mas eu continuo —

ensaiando minha próxima trapalhada genial.