A COLHEITA DO TEMPO

Sezar Kosta

No solo suspenso do instante,

brotam sementes invisíveis —

filhas do que já fomos,

mães do que ainda seremos —

bordando no silêncio

a promessa do que virá.

 

Em cada gesto pequeno —

o café que escorre pela borda,

a palavra que voa sem rumo,

um olhar que finca raízes —

o chão se abre, sensível,

como quem espera chuva.

 

Mas nem toda semente é luz:

há as que nascem entre ciscos,

plantadas por mãos cansadas

que esqueceram o tato do cuidado

e regam com silêncio seco

um campo que amarga cedo.

 

Ainda assim, é no miúdo do agora

que a colheita se desenha.

Semeamos com dedos atentos,

regamos com tempo e fé,

sabendo que o presente é terra viva,

onde o futuro aprende a crescer.

 

E entre o espinho e a flor,

entre a dor e a promessa,

descobrimos que a verdadeira colheita

não mora só no fruto aparente,

mas no que a terra nos devolve em segredo:

a coragem de recomeçar.

  • Autor: Sezar Kosta (Offline Offline)
  • Publicado: 14 de julho de 2025 15:51
  • Comentário do autor sobre o poema: Mesmo sem perceber, plantamos diariamente o que vamos colher amanhã. Nossos gestos moldam o solo do tempo — às vezes fértil, às vezes árido — e é o cuidado de hoje que transforma qualquer terreno em recomeço. A vida não responde só com resultados, mas com lições silenciosas que nos preparam para florescer de novo.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 11
  • Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta, Melancolia...
Comentários +

Comentários1

  • Maria dorta

    Lindo e edificante mensagem puseste neste poema. É assim que uma alma brilhante e generosa como a tua lança luzes na escuridão dos que vivem em degredo e com medo! Bravos!



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