No solo suspenso do instante,
brotam sementes invisíveis —
filhas do que já fomos,
mães do que ainda seremos —
bordando no silêncio
a promessa do que virá.
Em cada gesto pequeno —
o café que escorre pela borda,
a palavra que voa sem rumo,
um olhar que finca raízes —
o chão se abre, sensível,
como quem espera chuva.
Mas nem toda semente é luz:
há as que nascem entre ciscos,
plantadas por mãos cansadas
que esqueceram o tato do cuidado
e regam com silêncio seco
um campo que amarga cedo.
Ainda assim, é no miúdo do agora
que a colheita se desenha.
Semeamos com dedos atentos,
regamos com tempo e fé,
sabendo que o presente é terra viva,
onde o futuro aprende a crescer.
E entre o espinho e a flor,
entre a dor e a promessa,
descobrimos que a verdadeira colheita
não mora só no fruto aparente,
mas no que a terra nos devolve em segredo:
a coragem de recomeçar.