No quintal da memória

Luana Santahelena

Eu não sabia

que a vida corria tão depressa.

 

No quintal de casa,

o sol bordava sombras nas folhas da bananeira,

e o tempo — menino cansado —

dormia ao pé do muro.

 

Havia cheiro de pão no forno,

risadas que dançavam com o vento,

e galinhas que ciscavam segredos

no silêncio da terra úmida.

 

Cresci.

Mas o quintal ficou em mim:

com suas árvores tortas

e suas tardes cheias de histórias

ditas sem palavras.

 

A vida seguiu.

Mas, às vezes,

quando fecho os olhos,

a menina que fui

vem me visitar, descalça.

 

Traz nos braços

flores que não existem mais —

mas ainda perfumam.

 

E eu, com os fios prateados do tempo,

sorrio para ela.

Porque, no fundo,

eu nunca saí dali.

  • Autor: Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 14 de julho de 2025 11:57
  • Comentário do autor sobre o poema: Alguns lugares não são feitos de terra, mas de lembrança. Às vezes, aquilo que nos fez crescer continua morando em silêncio dentro da gente. Memórias simples, como um cheiro ou uma tarde comum, carregam o poder de nos lembrar quem somos. Mesmo que o tempo passe, certos quintais seguem vivos — na alma.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 14
  • Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena, Sezar Kosta
Comentários +

Comentários1

  • Sergio Neves

    SERGIO NEVES - ...minha amiga, que coisa mais bonita derramaste aqui! ...emotivo pra caramba! ...verdadeiramente uma poesia poesia! // (...me remeteu a um velho escrito meu -"Saudades Singelas",...não tão intenso como esse teu "quintal", mas me lembrou...,...se quiseres dê uma olhadinha por lá...) /// Meu carinho, menina poeta.



Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.