Luana Santahelena

No quintal da memória

Eu não sabia

que a vida corria tão depressa.

 

No quintal de casa,

o sol bordava sombras nas folhas da bananeira,

e o tempo — menino cansado —

dormia ao pé do muro.

 

Havia cheiro de pão no forno,

risadas que dançavam com o vento,

e galinhas que ciscavam segredos

no silêncio da terra úmida.

 

Cresci.

Mas o quintal ficou em mim:

com suas árvores tortas

e suas tardes cheias de histórias

ditas sem palavras.

 

A vida seguiu.

Mas, às vezes,

quando fecho os olhos,

a menina que fui

vem me visitar, descalça.

 

Traz nos braços

flores que não existem mais —

mas ainda perfumam.

 

E eu, com os fios prateados do tempo,

sorrio para ela.

Porque, no fundo,

eu nunca saí dali.