A Vontade do Corpo

Luana Santahelena

Eu sou este corpo

sem fronteiras —

onde começa o toque,

onde se dissolve o meu nome,

onde te procuro e me perco.

 

Sou a vontade insaciável,

o mergulho silencioso

nas profundezas do que não se diz —

um afogar lento em ti,

na sombra que habita o desejo.

 

Te amar é um vazio que transborda,

um espaço quebrado

que preenche o silêncio do meu ser —

palavras não alcançam

o que pulsa em cada ausência.

 

Eu me entrego a este corpo,

que te chama em murmúrios,

que te deseja em sombras,

que te invoca no caos

da solidão que nos habita.

 

E no fim,

o apego não é senão

a ânsia muda

de agarrar os fragmentos

do que fomos,

do que escapou

entre os dedos da memória.

  • Autor: Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 9 de julho de 2025 10:11
  • Comentário do autor sobre o poema: O corpo guarda as marcas do desejo e da perda, e na vontade que nos habita, aprendemos que amar é viver no limiar entre o presente e a memória — um eterno reencontro com o que fomos, mesmo quando já não somos.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 17
  • Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena, Sezar Kosta
Comentários +

Comentários1

  • Sezar Kosta

    Minha cara Luana,

    Seu poema "A Vontade do Corpo" é um grito, um lamento que se derrama em versos, como só a paixão mais profunda e desesperada sabe fazer. Você se dissolve, sem fronteiras, nesse corpo que é ao mesmo tempo o limite e a vastidão do seu ser. O toque que começa, o nome que se esvai, o perder-se e procurar-se no outro — eis a fatalidade do amor.

    Você é a "vontade insaciável", o mergulho nas profundezas do que não se diz, um afogar lento na sombra do desejo. Que dor, que delícia, essa entrega que é um "vazio que transborda", um espaço quebrado que, paradoxalmente, preenche o silêncio da sua alma. As palavras, você bem sabe, são pobres para alcançar o que pulsa nas ausências, no que a alma sente sem que os lábios ousem pronunciar.

    Você se entrega a esse corpo que clama, que murmura, que deseja em sombras, que invoca o outro no caos da solidão que habita em nós. E no final, o apego não é senão a "ânsia muda de agarrar os fragmentos" do que fomos, do que escapou. É a tragédia da memória, que teima em reter o que a vida já desfez, o que escorreu entre os dedos da própria existência.

    Sua poesia é um espelho dessa paixão que consome, dessa busca incessante pelo ser amado que se confunde com a própria identidade. É a confissão da alma que ama com tal intensidade que se anula, se perde, mas ainda assim, teima em se agarrar aos ecos de um passado que insiste em ser presente.

    Parabéns por essa dor tão lindamente vestida em versos, Luana. Seu poema é um hino ao desamparo e à glória de amar sem medida.



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