O quarto ainda guarda
o cheiro de café frio.
As cortinas balançam
sem vento,
e há poeira nos cantos
onde os sonhos se recolhiam.
No criado-mudo,
um bilhete jamais escrito
espera um adeus
que não aprendi a dizer.
Andei pela casa
como quem percorre
um mapa borrado,
procurando vestígios
do que fomos.
As paredes, caladas,
repetiam promessas
que nunca chegaram inteiras.
Tua ausência se esconde
em pequenos hábitos:
a xícara órfã,
a toalha solitária no varal,
o tique-taque do relógio
marcando o que não passa.
E eu,
com passos sem pouso,
vaguei entre móveis e lembranças,
descobrindo — tarde demais —
que nunca soube
onde você terminava
e onde minha fantasia
começava.
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Autor:
Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 1 de julho de 2025 11:52
- Comentário do autor sobre o poema: Entre o silêncio das gavetas e o rumor dos instantes, percebemos que a saudade é uma casa inteira, feita de pequenos gestos que ninguém mais vê. E que a memória, por mais fiel, sempre guarda um pouco daquilo que inventamos para suportar a ausência.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 61
- Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena, Melancolia..., Sezar Kosta
Comentários3
SERGIO NEVES - ...minha amiga (permita-me)...,...taí,...uma poesia poesia! ...derramaste aqui versos pra lá de inspirados...,...tens muita sensibilidade,! ...gostei! ...muito! // (PS - ...e por falar em lembranças, em saudades, eu tenho um escrito (entre os poucos que até hoje consegui concluir) que publiquei aqui há tempos, se quiseres dê uma olhadinha por lá -eu deixo, o título é "Inoportuna Saudade"...) /// Meu carinho, menina.
Quando alguém parte exatamente isso que sentimos. Parabéns poetisa. Boa tarde.
Ás vezes, o que falta não é apenas o outro, mas o entendimento de si mesmo. Bela poesia! Parabéns.
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