Luana Santahelena

Nas Gavetas da Memória

O quarto ainda guarda

o cheiro de café frio.

 

As cortinas balançam

sem vento,

e há poeira nos cantos

onde os sonhos se recolhiam.

 

No criado-mudo,

um bilhete jamais escrito

espera um adeus

que não aprendi a dizer.

 

Andei pela casa

como quem percorre

um mapa borrado,

procurando vestígios

do que fomos.

 

As paredes, caladas,

repetiam promessas

que nunca chegaram inteiras.

 

Tua ausência se esconde

em pequenos hábitos:

a xícara órfã,

a toalha solitária no varal,

o tique-taque do relógio

marcando o que não passa.

 

E eu,

com passos sem pouso,

vaguei entre móveis e lembranças,

descobrindo — tarde demais —

que nunca soube

onde você terminava

e onde minha fantasia

começava.