O quarto ainda guarda
o cheiro de café frio.
As cortinas balançam
sem vento,
e há poeira nos cantos
onde os sonhos se recolhiam.
No criado-mudo,
um bilhete jamais escrito
espera um adeus
que não aprendi a dizer.
Andei pela casa
como quem percorre
um mapa borrado,
procurando vestígios
do que fomos.
As paredes, caladas,
repetiam promessas
que nunca chegaram inteiras.
Tua ausência se esconde
em pequenos hábitos:
a xícara órfã,
a toalha solitária no varal,
o tique-taque do relógio
marcando o que não passa.
E eu,
com passos sem pouso,
vaguei entre móveis e lembranças,
descobrindo — tarde demais —
que nunca soube
onde você terminava
e onde minha fantasia
começava.