Na calada da noite, todos estão dormindo.
Faço um lanche secreto quando ninguém está vindo.
Abro a geladeira com um olhar ligeiro.
Encontro uma barra de chocolate, escondido sorrateiro.
Nesse momento, vejo uma sombra na janela a espreitar.
Tinha algo só esperando a luz apagar.
E aparece um cachorro frente ao meu egoísmo.
Destarte percebo a excentricidade do meu hedonismo.
O cão me observa curioso e atento.
Dou-lhe um pedaço do doce ciente do seu tormento.
Faço isso tendo vaga noção da consequência.
E sinto um arrepio percorrer minha essência.
Fiz sabendo que o cão iria voltar outra vez.
A sensualidade do doce é a curiosidade que se fez.
O animal leva uma vida de puro impulso.
Enquanto me faço frágil de viver avulso.
Quando escuta a embalagem ranger.
o cão convulsiona, pronto para sofrer.
É um prazer proibido que se come,
E no interior que prende e o consome.
Mais um pedaço, mais culpa e ardor.
O animal se contorce de prazer e dor.
A lua reflete seu olhar excitante.
A mesma luz me toca, vacilante.
O bicho se excita quando sente o doce derreter.
Ou sou eu me projetando neste enfraquecer.
Ele anseia por mais, faminto e sedento.
E estou pronto para ser o seu fiel alimento.
Noite após noite, tudo se repete.
Vejo seu corpo apodrecer e nada o remete.
Apenas o ato de pensar no papel.
Abre a porta para saborear este seduzente mel.
Eu abro o chocolate na languidez.
E me alimento outra vez.
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Autor:
Rip (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 24 de junho de 2025 16:47
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 8
- Usuários favoritos deste poema: Melancolia...
Comentários2
Uau… que escrita intensa, inquietante e profundamente simbólica. A relação entre o doce, o cão e o eu lírico é quase um espelho distorcido do desejo e da culpa, entre prazer e deterioração. É como se cada pedaço de chocolate fosse também um pedaço de si — entregue ao vício, à repetição e à própria sombra. Um texto que grita em silêncio. Forte demais.
Obrigado, meu amigo!
Vejo que sentiu perfeitamente o poema para si.
O prazer, o vício e a deterioração.
Abraços.
Gostei da originalidade em colocar a figura do cachorro. Foi um poema bem equilibrado e que nos instiga a refletir sobre cada verso. Espero que possa ler mais e mais poemas seus, Alma Perdida.
Atenciosamente,
Seu admirador.
Obrigado, meu admirador...
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