Na calada da noite, todos estão dormindo.
Faço um lanche secreto quando ninguém está vindo.
Abro a geladeira com um olhar ligeiro.
Encontro uma barra de chocolate, escondido sorrateiro.
Nesse momento, vejo uma sombra na janela a espreitar.
Tinha algo só esperando a luz apagar.
E aparece um cachorro frente ao meu egoísmo.
Destarte percebo a excentricidade do meu hedonismo.
O cão me observa curioso e atento.
Dou-lhe um pedaço do doce ciente do seu tormento.
Faço isso tendo vaga noção da consequência.
E sinto um arrepio percorrer minha essência.
Fiz sabendo que o cão iria voltar outra vez.
A sensualidade do doce é a curiosidade que se fez.
O animal leva uma vida de puro impulso.
Enquanto me faço frágil de viver avulso.
Quando escuta a embalagem ranger.
o cão convulsiona, pronto para sofrer.
É um prazer proibido que se come,
E no interior que prende e o consome.
Mais um pedaço, mais culpa e ardor.
O animal se contorce de prazer e dor.
A lua reflete seu olhar excitante.
A mesma luz me toca, vacilante.
O bicho se excita quando sente o doce derreter.
Ou sou eu me projetando neste enfraquecer.
Ele anseia por mais, faminto e sedento.
E estou pronto para ser o seu fiel alimento.
Noite após noite, tudo se repete.
Vejo seu corpo apodrecer e nada o remete.
Apenas o ato de pensar no papel.
Abre a porta para saborear este seduzente mel.
Eu abro o chocolate na languidez.
E me alimento outra vez.