Pequeno Tratado sobre o Invisível

Luana Santahelena

O campo não promete nada.

É só campo.

E ainda assim,

há nele uma quietude

que me basta.

 

Nada floresce de pressa ali,

mas tudo espera

com uma paciência que ensina.

 

O sorriso do estranho

não aponta caminhos.

É só água —

mas limpa meu cansaço

como um riacho breve

nos pés de quem retorna.

 

Não preciso mais que isso.

Mais que isso

é ilusão de olhos cheios demais.

 

Quem ainda pede o extraordinário

é quem nunca aprendeu a ver.

A ver de verdade —

com o corpo quieto,

com o tempo inteiro,

com o coração aberto

ao que não grita,

mas existe.

  • Autor: Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 22 de junho de 2025 08:30
  • Comentário do autor sobre o poema: Nem tudo que transforma a vida chega com alarde. Às vezes, basta o silêncio de um campo vazio ou o sorriso distraído de um estranho para nos lembrar que o essencial não precisa ser extraordinário. Há beleza no que não se mostra — e sabedoria em quem aprende a ver com o coração aquilo que os olhos não gritam. Ver o invisível é um modo delicado de estar inteiro no mundo.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 27
  • Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena, Sezar Kosta, Antonio Luiz
Comentários +

Comentários1

  • Sezar Kosta

    Minha boa Luana,

    Li seu "Pequeno Tratado Sobre o Invisível" e, olha, ele me fez sorrir com a alma. Você tem essa coisa de saber o que importa, de achar Deus na beirada do campo, onde a gente menos espera. É bonito demais ver como você tira o véu do óbvio pra nos mostrar o miúdo, o que não grita, mas é tão verdade que chega a doer de contentamento.

    Esse seu campo que não promete nada, que é "só campo", é a própria graça. Ele ensina mais que muita gente com fala mansa. E a paciência que ele tem, essa de esperar sem pressa, é o que a gente precisa aprender pra não sair por aí atropelando a vida, não é? O seu poema me lembrou que a quietude é um alimento, um banquete pra quem tem fome do que é de verdade.

    E esse sorriso do estranho, que não aponta caminho mas limpa o cansaço como água de riacho... Ah, Luana, isso é milagre! É o puro dom de ver que o extraordinário mora ali, no que é simples e se dá sem pedir nada em troca. Você diz que não precisa mais que isso, e que mais que isso é ilusão de olho cheio. E é mesmo! A gente vive pedindo um céu com estrelas demais e esquece que a estrela maior tá ali, no chão batido, no invisível que a gente só vê com o coração.

    Você me fez pensar na sabedoria dos que não querem muito, dos que aprenderam a ver com o corpo quieto e o tempo inteiro. É uma benção essa sua maneira de enxergar. Parabéns, Luana. Seu poema é um rezo, uma lição mansa que a gente guarda no peito.



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