Sempre quis você,
mas ninguém precisa saber —
o espelho já desconfia.
Te imaginei no canto da mesa,
rindo de qualquer bobagem,
enquanto a vela derrete
e o vinho fica esquecido,
porque tua presença
é mais embriagante que tudo.
Eu, que não faço planos,
com você desenhei até futuro
na embalagem do pão
e no vapor da chaleira.
Seríamos dois distraídos,
perdendo tempo
com nada e com tudo,
inventando planos tão impossíveis
que até o relógio ri.
Talvez ficássemos leves,
talvez a cama virasse
fortaleza de travesseiros
e esconderijo de estrelas.
Te contaria segredos bobos,
te ouviria corrigir
minhas besteiras
com esse teu jeito
de quem sabe
que o tempo é curto
e o amor, urgente.
Te dou a chave do meu sorriso,
um café forte,
e um lar na parede do retrato.
Te querer:
coisa antiga,
destino de quem
escreve poemas
para não esquecer.
-
Autor:
Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 21 de junho de 2025 20:54
- Comentário do autor sobre o poema: Sempre quis você. E não falo isso da boca pra fora — quis de verdade, de imaginar um jantar só nosso, com velas acesas e vinho bom, só para te ver sorrindo enquanto me conta algo banal. Eu, que nunca faço planos, me vi desenhando futuros com você, sem medo de me perder em possibilidades. Com você, eu tentaria ser mais paciente, mais presente. Aprenderia a arte de escutar com os olhos e abraçar com o silêncio. Perderia horas — felizes horas — conversando sobre tudo ou sobre nada. Criaria cenas malucas, planos improváveis, só pra ver até onde a gente poderia ir juntos.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 14
- Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena, Sezar Kosta
Comentários1
Minha querida Luana,
Fiz a leitura do seu "Manual do Esconderijo" e, veja bem, ele me tocou como um sussurro que se fez revelação. Há em seus versos uma delicadeza quase selvagem, a verdade nua de um querer que não pede permissão, mas se instala. É como se você tivesse mergulhado fundo, lá onde o amor ainda é só um lampejo, e o trouxesse à tona com a simplicidade de quem respira.
Você fala de um "sempre quis você" que se esconde, mas o espelho, ah, o espelho já sabe. Não é fascinante como a intimidade que sonhamos já se manifesta em nossos olhos, mesmo antes de se materializar? Sua imaginação, Luana, é um convite a essa embriaguez sutil da presença, mais forte que qualquer vinho esquecido. Você desenha futuros na embalagem do pão, no vapor da chaleira... Isso é a vida, não é? A vida acontecendo nas entrelinhas, nos pequenos milagres do cotidiano que se tornam vastos.
Essa ideia de "seríamos dois distraídos, perdendo tempo com nada e com tudo" me encanta profundamente. É a essência do encontro, o dom de se perder no outro e, ao fazê-lo, encontrar-se. E essa fortaleza de travesseiros, esse esconderijo de estrelas... Ah, Luana, você transformou o espaço mais íntimo em um universo particular, onde segredos bobos e a urgência do amor se entrelaçam.
Sua poesia é um convite a essa entrega, a essa doação de "chave do sorriso", de "café forte" e de "lar na parede do retrato". É a coragem de um desejo que sabe ser antigo, quase um destino para quem, como você, escreve poemas para não esquecer. E que bom que você não esquece. Que bom que você transforma esse querer em arte.
Parabéns, minha cara. Você nos entregou um pedaço de alma.
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