Luana Santahelena

Manual do Esconderijo

Sempre quis você,

mas ninguém precisa saber —

o espelho já desconfia.

 

Te imaginei no canto da mesa,

rindo de qualquer bobagem,

enquanto a vela derrete

e o vinho fica esquecido,

porque tua presença

é mais embriagante que tudo.

 

Eu, que não faço planos,

com você desenhei até futuro

na embalagem do pão

e no vapor da chaleira.

 

Seríamos dois distraídos,

perdendo tempo

com nada e com tudo,

inventando planos tão impossíveis

que até o relógio ri.

 

Talvez ficássemos leves,

talvez a cama virasse

fortaleza de travesseiros

e esconderijo de estrelas.

 

Te contaria segredos bobos,

te ouviria corrigir

minhas besteiras

com esse teu jeito

de quem sabe

que o tempo é curto

e o amor, urgente.

 

Te dou a chave do meu sorriso,

um café forte,

e um lar na parede do retrato.

 

Te querer:

coisa antiga,

destino de quem

escreve poemas

para não esquecer.