Sempre quis você,
mas ninguém precisa saber —
o espelho já desconfia.
Te imaginei no canto da mesa,
rindo de qualquer bobagem,
enquanto a vela derrete
e o vinho fica esquecido,
porque tua presença
é mais embriagante que tudo.
Eu, que não faço planos,
com você desenhei até futuro
na embalagem do pão
e no vapor da chaleira.
Seríamos dois distraídos,
perdendo tempo
com nada e com tudo,
inventando planos tão impossíveis
que até o relógio ri.
Talvez ficássemos leves,
talvez a cama virasse
fortaleza de travesseiros
e esconderijo de estrelas.
Te contaria segredos bobos,
te ouviria corrigir
minhas besteiras
com esse teu jeito
de quem sabe
que o tempo é curto
e o amor, urgente.
Te dou a chave do meu sorriso,
um café forte,
e um lar na parede do retrato.
Te querer:
coisa antiga,
destino de quem
escreve poemas
para não esquecer.