FIM DE SEMANA NO MEU QUINTAL

Sezar Kosta

Quero pouco:

um gole de vinho

num copo lascado,

o som morno de uma canção

que se esconde ainda

nas frestas do rádio antigo —

aquele que falava

em voz de gente

quando a casa era silêncio.

 

Quero o abraço

que se faz casa,

sem precisar de palavra,

o cheiro verde do mato

invadindo a varanda

como quem retorna

de uma infância esquecida,

a lua atrevida

espiando,

entre galhos de pitangueira,

o segredo das noites brandas.

 

Quero o tempo

esquecido no relógio,

preguiçoso,

pendurado na rede

entre um colo e outro,

entre o aroma do café

recém-passado

e o sussurro

das coisas que amamos

— sem nome,

mas tão nossas.

 

No meu refúgio,

as palavras se dissolvem em riso,

os olhos se entendem

numa travessura de meninos,

e a vida,

sem pressa,

se deita

como lençol branco

no domingo de sol.

 

O essencial,

ah, o essencial

não se explica:

desliza manso

numa tarde lenta,

no calor da mão,

no afago que permanece

quando a memória

já dorme —

e a vida,

silenciosa,

segue acesa

no que ficou.

  • Autor: Sezar Kosta (Offline Offline)
  • Publicado: 21 de junho de 2025 19:51
  • Comentário do autor sobre o poema: Tudo que eu preciso agora é um vinho que deslize suave pela alma — um vinho harmonioso, que fale em silêncio as histórias guardadas nas últimas garrafas da vida. Acompanhado por uma trilha sonora que não grite, mas sussurre, como se cada nota fosse um convite para o coração se abrir, para o tempo desacelerar. Quero um lugar onde a luz abrace sem pressa, onde as paredes sejam feitas de aconchego e os móveis, de lembranças compartilhadas. Um espaço onde a prosa flua leve, sem pressa, entre amigos que sabem ouvir o silêncio tanto quanto as palavras. Que esse final de semana seja um refúgio — onde o colo é abrigo, o cafuné é poesia feita toque, e o cheiro de mato entra pela janela como promessa de renovo. Que a lua, lá fora, desenhe no céu sua calma, e que a música seja a trilha das sensações que despertam o que há de mais simples e verdadeiro em nós. Porque, no fundo, a vida é isso: encontros que acalentam, momentos que iluminam e o respirar sereno de quem sabe que, às vezes, tudo que precisamos é desacelerar para, enfim, sentir.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 11
  • Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta, Luana Santahelena
Comentários +

Comentários1

  • Luana Santahelena

    A imaginação que você traz à vida é admirável.



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