Sezar Kosta

FIM DE SEMANA NO MEU QUINTAL

Quero pouco:

um gole de vinho

num copo lascado,

o som morno de uma canção

que se esconde ainda

nas frestas do rádio antigo —

aquele que falava

em voz de gente

quando a casa era silêncio.

 

Quero o abraço

que se faz casa,

sem precisar de palavra,

o cheiro verde do mato

invadindo a varanda

como quem retorna

de uma infância esquecida,

a lua atrevida

espiando,

entre galhos de pitangueira,

o segredo das noites brandas.

 

Quero o tempo

esquecido no relógio,

preguiçoso,

pendurado na rede

entre um colo e outro,

entre o aroma do café

recém-passado

e o sussurro

das coisas que amamos

— sem nome,

mas tão nossas.

 

No meu refúgio,

as palavras se dissolvem em riso,

os olhos se entendem

numa travessura de meninos,

e a vida,

sem pressa,

se deita

como lençol branco

no domingo de sol.

 

O essencial,

ah, o essencial

não se explica:

desliza manso

numa tarde lenta,

no calor da mão,

no afago que permanece

quando a memória

já dorme —

e a vida,

silenciosa,

segue acesa

no que ficou.