O POEMA ESQUECIDO DA FELICIDADE

Sezar Kosta

Desconfio:

a felicidade não se aprende em receitas.

Talvez more no cheiro do pão recém-saído,

no calor da manteiga escorrendo entre os dedos,

ou no balanço tranquilo da cadeira que range

enquanto o telefone, generoso, se cala.

 

Às vezes, ela salta

de um bilhete esquecido no bolso do casaco,

no olhar de espanto da criança

— que ainda não conhece o peso do tempo.

 

Aviso:

felicidade não traz manual nem mapa.

Esconde-se atrás da porta, faz careta no espelho,

derrama sal, ri dos nossos planos,

e dança quando tentamos entender.

 

Ser feliz é distração de quem anda leve:

quem se ocupa em buscar demais,

esquece de tropeçar nos instantes.

Eu mesmo já perdi alegrias pequenas

tentando decifrar o segredo das panelas

e dos corações.

 

Talvez o segredo seja misturar, sem medo:

um tanto de saudade,

colheres de esperança,

pitadas de riso à toa,

e um punhado de sonho —

mas só se for servido quente,

com olhos fechados e mãos abertas.

 

No final, é simples:

a felicidade não se deixa virar receita

— prefere surpreender —

como um poema esquecido

que, de repente, nos encontra

num dia qualquer,

e fica.

  • Autor: Sezar Kosta (Offline Offline)
  • Publicado: 19 de junho de 2025 21:59
  • Comentário do autor sobre o poema: Cada um de nós é o cozinheiro da própria felicidade, livre para escolher os sabores que deseja misturar. Acrescente um toque aqui, elimine um tempero ali, personalize a mistura conforme o seu gosto e necessidade. A beleza está na liberdade de experimentar, sem buscar uma fórmula pronta ou um padrão que sirva para todos. Somos aquilo que pensamos, queremos e necessitamos ser — únicos em nossa essência. E, acima de tudo, o que verdadeiramente importa é sermos fiéis a nós mesmos, sem permitir que os outros nos etiquetem ou ditem quem devemos ser. Porque a felicidade, no fim das contas, é exatamente isso: o sabor genuíno de sermos quem realmente somos.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 11
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