O amor primeiro tinha cheiro de terra molhada,
quando a gente desaprendeu o mundo
para aprender o universo do outro.
Eu sorria com os olhos fechados,
e ele se perdia no silêncio das manhãs.
As horas nos vestiam de sol,
e nossos pés caminhavam sem mapa —
passarinhos com alma de caracol,
vagando devagar pelo brilho do instante.
A eternidade era um animal pequeno,
escondido no bolso morno da tarde.
Depois, o tempo veio, sutil,
com suas pequenas distrações:
o amor se perdia em palavras desencontradas,
e as lembranças pingavam no telhado
como chuva que não avisa.
E é aí que mora a beleza:
no que não soubemos fazer durar,
mas que ficou aceso,
quieto e inteiro,
dentro da gente.
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Autor:
Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 18 de junho de 2025 12:41
- Comentário do autor sobre o poema: Era abril. E havia uma luz diferente nos olhos dele — aquela que só brilha quando o mundo ainda parece inédito. Caminhávamos sem pressa, como se o tempo tivesse sido feito só para nós dois. A cada toque de mão, a eternidade se insinuava, escondida no intervalo entre um sorriso e outro. Éramos dois desconhecidos do fim, e isso nos dava asas. Amar pela primeira vez é um ato de fé sem teologia — um mergulho de olhos fechados, como se o chão jamais pudesse faltar. Não sabíamos que promessas têm prazo ou que o “sempre” pode ser tão frágil quanto a pétala de uma flor esquecida.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 10
- Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena, Melancolia..., werner, Srta. Alma P.
Comentários1
Esse poema traduz com delicadeza a beleza de um amor que, mesmo tendo acabado, permanece vivo na memória. Ele celebra os instantes simples e intensos do começo, e aceita com ternura a dor do fim — mostrando que o que foi verdadeiro continua existindo dentro da gente.
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