Luana Santahelena

Manual Poético do Amor Provisório

O amor primeiro tinha cheiro de terra molhada,

quando a gente desaprendeu o mundo

para aprender o universo do outro.

 

Eu sorria com os olhos fechados,

e ele se perdia no silêncio das manhãs.

 

As horas nos vestiam de sol,

e nossos pés caminhavam sem mapa —

passarinhos com alma de caracol,

vagando devagar pelo brilho do instante.

 

A eternidade era um animal pequeno,

escondido no bolso morno da tarde.

 

Depois, o tempo veio, sutil,

com suas pequenas distrações:

o amor se perdia em palavras desencontradas,

e as lembranças pingavam no telhado

como chuva que não avisa.

 

E é aí que mora a beleza:

no que não soubemos fazer durar,

mas que ficou aceso,

quieto e inteiro,

dentro da gente.