O amor primeiro tinha cheiro de terra molhada,
quando a gente desaprendeu o mundo
para aprender o universo do outro.
Eu sorria com os olhos fechados,
e ele se perdia no silêncio das manhãs.
As horas nos vestiam de sol,
e nossos pés caminhavam sem mapa —
passarinhos com alma de caracol,
vagando devagar pelo brilho do instante.
A eternidade era um animal pequeno,
escondido no bolso morno da tarde.
Depois, o tempo veio, sutil,
com suas pequenas distrações:
o amor se perdia em palavras desencontradas,
e as lembranças pingavam no telhado
como chuva que não avisa.
E é aí que mora a beleza:
no que não soubemos fazer durar,
mas que ficou aceso,
quieto e inteiro,
dentro da gente.