Gosto de gente que cultiva silêncios como quem rega hortênsias
ao entardecer —
gente que sabe que o tempo é uma criança distraída
brincando com os ponteiros do relógio
e por isso não tem pressa na alma,
nem medo das rugas que nascem com os anos.
Gosto de quem oferece o sorriso
como quem serve pão fresco,
e não poupa migalhas de ternura
para o pardal cansado do mundo.
Há uma sabedoria morna
em repartir a sombra de uma árvore,
em escutar histórias que brotam
de bocas desdentadas ou mãos calejadas.
Amo os que aceitam a tarefa de viver
sem renegociar as dívidas do coração,
gente que enfrenta compromissos difíceis
com a leveza dos que sabem
que a vida, às vezes, é casca grossa
e polpa doce.
Gente que colhe afetos,
orienta sementes,
faz do erro uma aula de poesia.
Que não foge do escuro
e entende que o medo também precisa de colo.
Que aprende com o espanto de uma criança,
com a paciência de um velho,
com o olhar analfabeto das estrelas.
Tenho fé naqueles que dão espaço
para as emoções fazerem bagunça,
que deixam a casa do peito aberta
para visitas inesperadas:
tristeza, alegria, raiva, esperança —
todas são bem-vindas para o café.
Porque viver, afinal, é um ofício de delicadezas:
repartir o que se tem,
acolher o que se é,
e, quem sabe, —
num gesto distraído e simples —
plantar eternidades nas manhãs dos outros.
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Autor:
Sezar Kosta (
Offline)
- Publicado: 17 de junho de 2025 12:14
- Comentário do autor sobre o poema: Meu coração se alegra diante das almas que desvendam tempo para que sorrisos desabrochem bondade, e cujas mãos, leves, semeiam o perdão como sementes de paz em solo ressecado. Admiro a pureza de quem reparte ternuras como néctar, e que, em cada partilha de vivências, abre horizontes e dá vasto espaço às emoções que brotam, límpidas, de seu mais profundo ser. É a gente que ama o que faz, que se entrega à própria paixão sem hesitar, mas que jamais foge aos compromissos mais intrincados, inadiáveis, por mais que drenem a energia e pesem sobre a alma. São aqueles que, com sabedoria, colhem lições de cada dia, orientam com a luz da experiência, entendem as tramas da vida, e aconselham com a serenidade de quem busca incansavelmente a verdade. Possuem a rara humildade de querer aprender sempre, seja na inocência de uma criança, na simplicidade de um pobre, ou na profundidade silenciosa de um analfabeto. Eles são a melodia da vida que pulsa, a bússola que aponta para o melhor em nós.
- Categoria: Não classificado
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