Sezar Kosta

PLANTANDO ETERNIDADES NAS MANHÃS DOS OUTROS

Gosto de gente que cultiva silêncios como quem rega hortênsias

ao entardecer —

gente que sabe que o tempo é uma criança distraída

brincando com os ponteiros do relógio

e por isso não tem pressa na alma,

nem medo das rugas que nascem com os anos.

 

Gosto de quem oferece o sorriso

como quem serve pão fresco,

e não poupa migalhas de ternura

para o pardal cansado do mundo.

Há uma sabedoria morna

em repartir a sombra de uma árvore,

em escutar histórias que brotam

de bocas desdentadas ou mãos calejadas.

 

Amo os que aceitam a tarefa de viver

sem renegociar as dívidas do coração,

gente que enfrenta compromissos difíceis

com a leveza dos que sabem

que a vida, às vezes, é casca grossa

e polpa doce.

 

Gente que colhe afetos,

orienta sementes,

faz do erro uma aula de poesia.

Que não foge do escuro

e entende que o medo também precisa de colo.

Que aprende com o espanto de uma criança,

com a paciência de um velho,

com o olhar analfabeto das estrelas.

 

Tenho fé naqueles que dão espaço

para as emoções fazerem bagunça,

que deixam a casa do peito aberta

para visitas inesperadas:

tristeza, alegria, raiva, esperança —

todas são bem-vindas para o café.

 

Porque viver, afinal, é um ofício de delicadezas:

repartir o que se tem,

acolher o que se é,

e, quem sabe, —

num gesto distraído e simples —

plantar eternidades nas manhãs dos outros.