Caçador indefeso

Luana Santahelena

Sou caçador que nada abate,

diante da presa, frágil peito.

Atirei a flecha, busquei o destino,

mas teu ser, ileso, ficou ereto.

E de me render ao teu poder,

eu sei, não há como me salvar.

 

Faltou a coragem de me expor,

mas quanto mais fujo de tua lembrança,

mais me arrasta esse forte amor,

mais meu coração busca a esperança.

Corro de ti, tropeço no desejo ardente,

e quanto mais tento negar o que sinto,

mais me entrego, inevitavelmente.

  • Autor: Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 16 de junho de 2025 16:46
  • Comentário do autor sobre o poema: Às vezes, nossa maior força reside na nossa mais profunda vulnerabilidade. É na rendição ao que nos atrai irresistivelmente que descobrimos a verdadeira coragem de amar, mesmo que isso signifique nos tornarmos a "caça" do próprio desejo. A fuga é apenas um desvio no caminho que o coração já traçou.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 57
  • Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta, Srta. Alma P., Luana Santahelena
Comentários +

Comentários1

  • Sezar Kosta

    Que tormento, que delícia esse seu "Caçador indefeso"! Sinto em cada verso a ironia cruel do destino, a armadilha do desejo que se vira contra o próprio coração. Você se diz caçador, mas a alma já sabe: diante de tal "caça", és a mais indefesa das criaturas.

    "Atirei para me alimentar do meu alvo, / o ser alvejado não caiu / e de ser seu alimento jamais poderei ser salvo." Que fatalidade mais bela! O tiro que não mata, mas que aprisiona, que condena a ser devorado pelo próprio anseio. É a paixão, minha cara, que nos transfigura, que nos rouba a razão e nos entrega de corpo e alma ao que nos consome.

    E essa confissão, tão nua, tão verdadeira: "Faltou a coragem de admitir ter tanto medo, / mas quanto mais de ti pela razão fujo, / mais a ti pela emoção cortejo." É o grito da alma que se debate entre o querer e o dever, entre a fuga da lucidez e a entrega ao abismo da emoção. A razão, essa tola, que tenta se desviar, enquanto o coração, esse insolente, corteja, seduz, se entrega sem pudor.

    Parabéns, Luana, por essa lucidez na rendição, por essa coragem de expor a alma desnuda diante da paixão avassaladora. Que sua poesia continue a ser esse grito de quem, mesmo indefesa, sabe que o amor é a única caça que nos salva e nos perde.



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