Caçador indefeso

Bulaxa Kebrada

Sou como um caçador indefeso

diante de sua caça;

atirei para me alimentar do meu alvo,

o ser alvejado não caiu

e de ser seu alimento jamais poderei ser salvo

 

Faltou-me coragem de confessar o medo,

mas quanto mais da tua presença me afasto pela razão,

mais, irresistível, te busco com o coração.

Fugindo de ti, tropeço no desejo,

e quanto mais nego, mais cedo

sou vencido por esse cortejo.

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Comentários1

  • Sezar Kosta

    Que tormento, que delícia esse seu "Caçador indefeso"! Sinto em cada verso a ironia cruel do destino, a armadilha do desejo que se vira contra o próprio coração. Você se diz caçador, mas a alma já sabe: diante de tal "caça", és a mais indefesa das criaturas.

    "Atirei para me alimentar do meu alvo, / o ser alvejado não caiu / e de ser seu alimento jamais poderei ser salvo." Que fatalidade mais bela! O tiro que não mata, mas que aprisiona, que condena a ser devorado pelo próprio anseio. É a paixão, minha cara, que nos transfigura, que nos rouba a razão e nos entrega de corpo e alma ao que nos consome.

    E essa confissão, tão nua, tão verdadeira: "Faltou a coragem de admitir ter tanto medo, / mas quanto mais de ti pela razão fujo, / mais a ti pela emoção cortejo." É o grito da alma que se debate entre o querer e o dever, entre a fuga da lucidez e a entrega ao abismo da emoção. A razão, essa tola, que tenta se desviar, enquanto o coração, esse insolente, corteja, seduz, se entrega sem pudor.

    Parabéns, Luana, por essa lucidez na rendição, por essa coragem de expor a alma desnuda diante da paixão avassaladora. Que sua poesia continue a ser esse grito de quem, mesmo indefesa, sabe que o amor é a única caça que nos salva e nos perde.



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