Efeito Colateral

Ester Araújo

Dizem que fui feita de excesso.
Mas que culpa tem o incêndio
por não caber numa vela?

Eu amei como quem rasga o próprio peito
para servir o coração em bandeja de prata.
Não por submissão —
mas por desespero de ser sentida.

A loucura?
Foi minha lucidez aguda demais.
Pensei tanto, tão fundo, tão fora,
que o mundo rotulou de delírio
o que era só visão além da névoa.

A inteligência me cobrou caro:
vi o que ninguém queria ver,
sangrei verdades que a maioria finge não doer.

A beleza?
Ah… essa maldição dourada.
Ela entra antes de mim,
e ninguém percebe
que sou feita mais de abismos do que de espelhos.

Me apaixonei por almas nuas,
pelos que têm cicatrizes onde outros têm máscaras.
E por isso, chamaram de insana
a mulher que só queria ser tocada
na parte que não aparece nas fotos.

Você quer entender quem eu sou?
Não leia meus lábios —
leia os silêncios entre minhas palavras.
Lá mora o grito que não coube na poesia.
Lá mora o efeito colateral de existir demais.

Então, me diga:
Você quer a cura ou o veneno?
Porque eu sou os dois —
e esse é só o começo do efeito.

  • Autor: Esterlar (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 15 de junho de 2025 00:48
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 3
Comentários +

Comentários1

  • Poesia, Eu Sou iamai

    Intenso! Profundo! Incisivo!
    Torrencial mesmo.
    Bravo!!!

    • Ester Araújo

      Que palavras impactantes! Obrigada por esse retorno tão potente. Que bom saber que te atingiu assim — profundamente.



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