O EFEITO COLATERAL DE UM BEIJO

Sezar Kosta

Naquela tarde eu só queria um café. O dia estava sem graça, como se tivesse esquecido de colocar sal em si mesmo. Mas ela apareceu. Com aquele sorriso que nunca promete pouco — e sempre cumpre mais do que devia.

Antes que eu dissesse qualquer coisa, me beijou. Assim mesmo: com a naturalidade de quem oferece um doce a uma criança — sabendo que ela não vai resistir.

Não sei o que havia naquele beijo. Açúcar? Conhaque? Encantamento? Só sei que fiquei tonto. Saí pela rua tropeçando em mim mesmo, como quem perde o norte e nem lamenta. Entrei numa farmácia achando que era padaria. Sorri para um balconista como se fosse padeiro — e pedi croissant.

Desde então, carrego esse efeito colateral: uma espécie de vertigem afetiva. Ainda quero aquele beijo. De novo, e de novo. Não por saudade — por vício. Vai entender a vida.

Ou talvez o amor seja só isso: um beijo bem dado em plena tarde comum, capaz de embaralhar farmácias, padarias... e o coração da gente.

  • Autor: Sezar Kosta (Offline Offline)
  • Publicado: 9 de junho de 2025 17:11
  • Comentário do autor sobre o poema: Ainda quero beber na fonte destes seus beijos doces. Diga-se de passagem, que frase. Fonte de beijos doces. Quase um slogan de refrigerante. Ou de alguma seita esquisita. Mas, enfim, a gente tem que se agarrar no que pode, né? Porque a vida, convenhamos, anda meio azeda ultimamente. E um beijo doce, ah, um beijo doce é quase uma utopia. Penso nisso enquanto leio o jornal, que, como sempre, está cheio de notícias que me fazem duvidar da sanidade da raça humana. Beijos, a gente sabe, não vão resolver a crise econômica. Mas que ajudam, ajudam.
  • Categoria: Amor
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