PROCURA-SE UM RISO PERDIDO

Sezar Kosta

Há dias em que a tarde se enrosca

no varal do tempo, e eu olho —

meio menino, meio velho —

a sombra de uma gargalhada que ficou

no canto da sala,

como se ali morasse um passarinho esquecido.

 

Sinto falta do teu riso.

Ele tinha qualquer coisa de brisa na janela,

essas coisas que vêm sem pedir licença

e vão embora sem fazer barulho.

Era um jeito de iluminar o silêncio,

de ensinar a vida a ser menos grave,

como quem afasta uma nuvem com a ponta dos dedos.

 

Há uma dignidade nesses risos francos,

despidos de cerimônia.

Eles atravessam a sala, tropeçam nos móveis,

e deixam no chão um rastro de alegria distraída,

como quem derrama vinho no tapete

numa festa onde ninguém tem pressa de ir embora.

 

Teu riso era farol

em noite de neblina,

era mapa antigo desenhado à mão,

era coragem de andar descalça

num mundo cheio de cacos.

E havia nele uma vontade de ser inteira,

sem pedir desculpa à vida,

sem medo do olhar dos outros.

 

É curioso: a gente passa tanta vida empilhando palavras,

mas às vezes basta o eco de uma risada —

essa coisa simples, quase banal —

para que tudo faça sentido por um instante.

Como se o segredo da felicidade

morasse apenas no descuido de ser,

no breve abraço daquilo que não se explica.

 

Talvez eu queira só isso:

caminhar ao teu lado,

sem muros nem armaduras,

brindando a cada instante

como quem celebra o improvável,

a beleza selvagem de existir.

 

E se um dia tua risada voltar,

te peço que não me avise.

Chega assim, de mansinho —

feito o sol atravessando a cortina fina do outono —

e me encontra distraído,

com a alma aberta

e o coração descalço.

  • Autor: Sezar Kosta (Offline Offline)
  • Publicado: 7 de junho de 2025 12:25
  • Comentário do autor sobre o poema: Seu riso era um farol que iluminava cada dia, lembrando que viver é um presente para ser celebrado. A liberdade de ser você mesma, com coragem e verdade, irradia uma energia que contagia e inspira. Que possamos seguir juntos, deixando para trás medos e julgamentos, criando um espaço onde a autenticidade floresce e a felicidade se torna real e duradoura. A vida ganha sentido quando dançamos ao ritmo da nossa essência.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 6
  • Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta, Melancolia..., Spell mesclados


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