Autodesconhecimento

Cantti

Eu sou uma peça quebrada de um quebra-cabeça,

um escritor incapaz de segurar a própria caneta,

ou, quem sabe, o anjo que vai tocar a décima trombeta.

 

Eu sou uma aranha que não aprendeu a tecer teias,

o discípulo que não bebeu à ceia,

ou Davi, se não cuidasse de ovelhas.

 

Eu sou a maior força que não existe,

a felicidade de quem não fica triste,

a brasa duma fogueira acesa por uma centelha.

 

Eu sou um quadro branco banhado em tinta negra,

o mar agitado numa praia que não tem areia,

um pão que não serve pra fazer sanduíche.

 

Eu sou a tinta de um grafite banhado em piche.

Eu sou uma centelha incendiando uma ovelha.

Eu sou a ceia que traiu seu discípulo.

Eu sou uma teia escrita por uma caneta.

Eu sou a perna de um pedaço de uma peça de um quebra-cabeça.

Eu sou uma trombeta feita de tristeza.

Eu sou a menor felicidade que existe.

Eu sou um boi que nasceu pra virar bife.

 

Na verdade, deixa pra lá.

Eu não sou nada do que eu disse. 

  • Autor: Cantti (Offline Offline)
  • Publicado: 5 de junho de 2025 16:40
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 8


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