Eu sou uma peça quebrada de um quebra-cabeça,
um escritor incapaz de segurar a própria caneta,
ou, quem sabe, o anjo que vai tocar a décima trombeta.
Eu sou uma aranha que não aprendeu a tecer teias,
o discípulo que não bebeu à ceia,
ou Davi, se não cuidasse de ovelhas.
Eu sou a maior força que não existe,
a felicidade de quem não fica triste,
a brasa duma fogueira acesa por uma centelha.
Eu sou um quadro branco banhado em tinta negra,
o mar agitado numa praia que não tem areia,
um pão que não serve pra fazer sanduíche.
Eu sou a tinta de um grafite banhado em piche.
Eu sou uma centelha incendiando uma ovelha.
Eu sou a ceia que traiu seu discípulo.
Eu sou uma teia escrita por uma caneta.
Eu sou a perna de um pedaço de uma peça de um quebra-cabeça.
Eu sou uma trombeta feita de tristeza.
Eu sou a menor felicidade que existe.
Eu sou um boi que nasceu pra virar bife.
Na verdade, deixa pra lá.
Eu não sou nada do que eu disse.