YES
Qual nau que singra em mar de esquecimento,
Sem porto certo ou rota a perscrutar,
Assim te ergo o verso, ó desconhecimento,
Que em densa névoa o ser vem a ocultar.
Não te procuro em mapas ou em lendas,
Nem vosso fado, ó sombra, quero ler;
Em vossa essência, as eras, tu as prendes,
E o tempo alheio ao que não quer saber.
Do vasto mar, que a bruma envolta cobre,
Não sai a voz, nem gesta a recordar,
Nenhum herói de ti jamais discorre.
Nenhum brasão se impõe no teu lugar,
És a certeza do que não se alcança,
A liberdade em não mais te buscar.
Nem glória em ti se nutre, nem esperança,
Somente o puro e límpido ignorar.
Que os feitos grandes de almas renomeadas,
Se gravitem no bronze, em voz que aclama;
Tuas passagens, silentes, ignoradas,
São a matéria que jamais inflama.
Não há lamento em tua deslembrança,
Nem ânsia de saber o que virá.
És a quietude em meio à bonança,
A paz de um "tanto faz", de um "será".
Que em vossas brumas, ó Ninguém sem nome,
Se encontre a calma de não mais querer.
Em ti, a mente que se não consome,
No fardo vil de tudo discernir,
Qual vastidão que o olho não abarca.
Ou a canção que o vento faz sumir,
Assim te deixo, ó essência que demarca,
O doce dom de apenas existir.
https://youtu.be/XgWz55phFKQ?si=4Ie_kpZ_aejaen2Z
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Autor:
Tereza Mendonza Lima (
Offline)
- Publicado: 4 de junho de 2025 20:15
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 5
Comentários1
SERGIO NEVES - ...poesia poesia! // ...vou aqui direcionar a ti o último verso: -"...o doce dom de apenas existir..." /// Carinhos, menina.
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