Tereza Mendonza Lima

Canto ao Desconhecido

 

Qual nau que singra em mar de esquecimento,

Sem porto certo ou rota a perscrutar,

Assim te ergo o verso, ó desconhecimento,

Que em densa névoa o ser vem a ocultar.

 

Não te procuro em mapas ou em lendas,

Nem vosso fado, ó sombra, quero ler;

Em vossa essência, as eras, tu as prendes,

E o tempo alheio ao que não quer saber.

 

Do vasto mar, que a bruma envolta cobre,

Não sai a voz, nem gesta a recordar,

Nenhum herói de ti jamais discorre.

 

Nenhum brasão se impõe no teu lugar,

És a certeza do que não se alcança,

A liberdade em não mais te buscar.

 

Nem glória em ti se nutre, nem esperança,

Somente o puro e límpido ignorar.

 

Que os feitos grandes de almas renomeadas,

Se gravitem no bronze, em voz que aclama;

Tuas passagens, silentes, ignoradas,

São a matéria que jamais inflama.

 

Não há lamento em tua deslembrança,

Nem ânsia de saber o que virá.

És a quietude em meio à bonança,

A paz de um \"tanto faz\", de um \"será\".

 

Que em vossas brumas, ó Ninguém sem nome,

Se encontre a calma de não mais querer.

 

Em ti, a mente que se não consome,

No fardo vil de tudo discernir,

Qual vastidão que o olho não abarca.

 

Ou a canção que o vento faz sumir,

Assim te deixo, ó essência que demarca,

O doce dom de apenas existir.

 

https://youtu.be/XgWz55phFKQ?si=4Ie_kpZ_aejaen2Z