A LUZ QUE NASCE EM NÓS

Sezar Kosta

Houve um tempo em que duvidei dos encantos, 

quando os dias vinham nus, sem cor, 

e a esperança se arrastava — 

um véu esquecido, perdido no vento. 

 

O mundo parecia exato demais, 

sem espaço para o brilho das estrelas, 

sem margem para o toque dos milagres — 

apenas o silêncio frio do concreto. 

 

Diziam que o amor era invenção, 

perfume fugaz na luz do dia, 

eco distante de histórias alheias, 

um desejo que nunca se alcança. 

 

Mas havia algo — sutil, invisível — 

nas entrelinhas de um gesto, 

no calor acidental de mãos que se tocam, 

no olhar que demora, sem querer partir. 

 

Um livro aberto na página certa, 

um riso rompendo o tédio da rotina, 

o som da chuva que canta na madrugada, 

lembrando que a vida respira poesia. 

 

Sussurros que não vêm do mundo, 

mas do fundo — um rumor de sonho 

teimando em viver, 

mesmo sob a pele da descrença. 

 

E foi quando menos esperei 

que a centelha se fez clarão: 

não vinda de fora, 

mas um fogo íntimo, irrefreável.

 

O amor atravessou-me — flecha antiga, 

com o peso exato do que é real. 

Não explosão, mas alvorada, 

lento incêndio de reconhecimento. 

 

A vida mudou sua temperatura: 

palavras ganharam asas, 

olhos, fôlego, 

coração, lar. 

 

Aprendi: 

a magia não é espetáculo, 

é sutilidade — 

coragem de ver o real 

com olhos de encanto. 

 

É escolha — 

pacto silencioso entre sentir e permitir, 

momento em que o medo se desarma 

e o vibrar se abre em chama. 

 

Há beleza em quem acredita, 

mesmo após quedas, 

em quem encontra no caos 

a luz da constelação nova. 

 

Hoje, não busco milagres fora — 

sei que carrego o fósforo. 

 

A centelha não vem do outro: 

nasce 

no instante exato 

em que escolho não desistir. 

 

Enquanto houver alguém 

que sonhe de olhos abertos, 

ame com os pés no chão 

e a alma em combustão.

 

A magia — chama antiga, indomável — 

há de viver, 

em cada coração incandescente, 

aguardando o sopro certo 

para incendiar o mundo. 

  • Autor: Sezar Kosta (Offline Offline)
  • Publicado: 3 de junho de 2025 15:29
  • Comentário do autor sobre o poema: Sabe, amigos, vou confessar um pequeno segredo de bastidor sobre "A Luz que Nasce em Nós". Houve um tempo em que meu coração andava meio nublado, achando que a vida era como um manual de instruções bem certinho, sabe? Sem espaço para aquelas surpresas deliciosas que a gente tanto gosta. Eu via o amor como um perfume que evapora rapidinho, uma história bonita de cinema que não nos alcançava. Mas, de repente, a vida me deu um beliscão e mostrou que a magia não precisa de palco grandioso, ela mora no nosso jeitinho de enxergar o mundo, mesmo naquelas coisinhas miúdas do dia a dia. É como descobrir que o fósforo para acender a fogueira da alegria já estava no nosso bolso o tempo todo! E então, me contem: essa centelha também acendeu algo por aí? Adoraria saber o que o poema despertou em vocês nos comentários!
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 3
  • Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta


Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.