O gesto de não saber

Anna Gonçalves

Errar

          [e que belo verbo]

não como falha,

mas como gesto inaugural do pensamento.

Como um ritmo do espírito que recusa as muletas do costume.

 

Tropeçar é tatear o mundo

com os pés da consciência,

é submeter o corpo

ao risco de descobrir.

 

Qual é a medida da ação?

Onde começa o erro e termina o ensaio?

Não há régua para o abismo, só há salto!

 

Mas haverá sabores no caminho

que não se oferecem ao acaso 

só o paladar desperto percebe

o gosto que pulsa no instante,

como um corpo que caminha

e, ao tocar o chão, o reinventa...

 

Parar...

Parar é um ato revolucionário num tempo de urgência...

Parar é se confrontar,

com o que em nós não é forma,

mas vertigem.

 

A vulnerabilidade nos arranca do conforto

e nos lança na clareira do ser

onde toda certeza é ruído,

toda segurança, ilusão.

 

E ali, nesse silêncio inquietante,

as vozes que habitam a mente,

essas sentinelas do ego 

cedem espaço

à presença nua do desconhecido.

 

Silenciar não é renunciar,

é escutar com profundidade.

É retirar os lençóis da interpretação

e permitir que o real

se revele em sua estranheza.

 

Pois conhecer não é dominar é ser atravessado.

É tornar-se território por onde passam narrativas, saberes que não nos pertencem, mas que nos tocam.

Aprender, então, é desaprender o conforto.

É tornar-se estrangeiro na própria alma...

Eis o caminho...

                [não há linha reta do controle]

mas a curva bem lenta do aprender.

Uma coreografia com o que não se sabe,

um convite à escuta

num mundo que já fala demais...

 

E... Sabe quando fazemos planos? 

E de repente a vida se intromete!?

Somos pobres tolos que achamos que dá pra encaixar tudo na agenda bem regrada,

seguir o tempo como se ele fosse nosso, ou como se pudéssemos revisitar o tempo. 

 

Mas, de repente,

ela, a vida, nos convoca de propósito!

                              [Danada de vida]

Nos atravessa num gesto simples,

um pequeno acontecimento,

um pedido de ajuda,

um pouco de ternura,

ou mesmo no desfazer de um laço.

 

E é bem aí que algo se desloca...

Nos tira do script,

mas nos coloca em nosso curso.

No rumo da vida, na nossa direção.

 

Como quem costura

com o que a vida entrega 

linha invisível que une

o imprevisto ao essencial.

Afinal, você costura com a linha que a vida te entrega? 

 

  • Autor: Anna Gonçalves (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 1 de junho de 2025 23:51
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 2


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