Errar
[e que belo verbo]
não como falha,
mas como gesto inaugural do pensamento.
Como um ritmo do espírito que recusa as muletas do costume.
Tropeçar é tatear o mundo
com os pés da consciência,
é submeter o corpo
ao risco de descobrir.
Qual é a medida da ação?
Onde começa o erro e termina o ensaio?
Não há régua para o abismo, só há salto!
Mas haverá sabores no caminho
que não se oferecem ao acaso
só o paladar desperto percebe
o gosto que pulsa no instante,
como um corpo que caminha
e, ao tocar o chão, o reinventa...
Parar...
Parar é um ato revolucionário num tempo de urgência...
Parar é se confrontar,
com o que em nós não é forma,
mas vertigem.
A vulnerabilidade nos arranca do conforto
e nos lança na clareira do ser
onde toda certeza é ruído,
toda segurança, ilusão.
E ali, nesse silêncio inquietante,
as vozes que habitam a mente,
essas sentinelas do ego
cedem espaço
à presença nua do desconhecido.
Silenciar não é renunciar,
é escutar com profundidade.
É retirar os lençóis da interpretação
e permitir que o real
se revele em sua estranheza.
Pois conhecer não é dominar é ser atravessado.
É tornar-se território por onde passam narrativas, saberes que não nos pertencem, mas que nos tocam.
Aprender, então, é desaprender o conforto.
É tornar-se estrangeiro na própria alma...
Eis o caminho...
[não há linha reta do controle]
mas a curva bem lenta do aprender.
Uma coreografia com o que não se sabe,
um convite à escuta
num mundo que já fala demais...
E... Sabe quando fazemos planos?
E de repente a vida se intromete!?
Somos pobres tolos que achamos que dá pra encaixar tudo na agenda bem regrada,
seguir o tempo como se ele fosse nosso, ou como se pudéssemos revisitar o tempo.
Mas, de repente,
ela, a vida, nos convoca de propósito!
[Danada de vida]
Nos atravessa num gesto simples,
um pequeno acontecimento,
um pedido de ajuda,
um pouco de ternura,
ou mesmo no desfazer de um laço.
E é bem aí que algo se desloca...
Nos tira do script,
mas nos coloca em nosso curso.
No rumo da vida, na nossa direção.
Como quem costura
com o que a vida entrega
linha invisível que une
o imprevisto ao essencial.
Afinal, você costura com a linha que a vida te entrega?