REVOLUÇÕES INVISÍVEIS DO COTIDIANO

Sezar Kosta

Às vezes, o mundo se revela nos detalhes que quase ninguém nota —

Dona Lúcia, mãos trêmulas, desafia a máquina do banco,

os dígitos piscando como enigmas de outro tempo.

Ela respira fundo, ajeita os óculos,

e em cada toque hesitante há uma coragem miúda

de quem aprendeu que o tempo não espera,

mas também não vence.

 

Ao lado, Diego finge mexer no celular.

Por dentro, uma tempestade:

perguntas sem respostas, sonhos costurados com medo.

Ele fecha os olhos, conta até dez,

e encontra forças num lugar secreto,

onde ninguém aplaude, nem vê.

Mais adiante, um homem se abaixa —

Joelhos no chão duro do asfalto,

dedos ágeis refazem o laço do tênis da filha,

e no nó paciente há o desejo

de que ela siga firme, mesmo quando tropeçar.

 

A mudança, você percebe, não é um trovão,

tampouco um clarão repentino.

É um fio de água cavando a pedra,

uma semente insistente,

o silêncio de passos que não desistem.

 

No compasso do cotidiano,

as pequenas revoluções acontecem —

anônimas, persistentes,

dentro de cada um que escolhe tentar de novo.

 

E talvez, só talvez,

seja nessas horas mudas

que o mundo realmente se transforma.

  • Autor: Sezar Kosta (Offline Offline)
  • Publicado: 31 de maio de 2025 06:41
  • Comentário do autor sobre o poema: Olha só, pessoal! Sabe quando a gente tenta pescar uma ideia no rio da inspiração, e a linha parece estar quebrada? Pois é, com o poema "Revoluções Invisíveis do Cotidiano" foi um pouco diferente. Eu estava aqui, observando o mundo, e de repente, percebi que a inspiração não veio de um raio que rasgou o céu, nem de uma cachoeira grandiosa. Ela surgiu de um monte de gotinhas de água que, juntas, estavam cavando uma pedra. Foi tipo assim: eu estava num dia desses, meio desligado, e vi a Dona Lúcia, guerreira, domando o teclado do caixa eletrônico como se estivesse desvendando um mapa do tesouro. Depois, o Diego, que por fora parecia só mexer no celular, mas por dentro devia estar travando uma batalha épica com seus dragões interiores. E o pai, Joel, amarrando o cadarço da filha com uma paciência que parecia costurar a esperança no futuro dela. Percebi que a vida real, a que realmente nos transforma, não faz alarde. Ela se esconde nos gestos miúdos, na coragem silenciosa de quem decide tentar de novo, mesmo sem plateia. É como aquelas sementinhas teimosas que brotam no asfalto, sabe? Então, o poema nasceu disso: de observar essas revoluções que acontecem sem grito, sem flash, mas que movem o mundo. Me conta aí, qual a sua impressão? Curto muito saber o que vocês acham!
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 5
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