Sezar Kosta

REVOLUÇÕES INVISÍVEIS DO COTIDIANO

Às vezes, o mundo se revela nos detalhes que quase ninguém nota —

Dona Lúcia, mãos trêmulas, desafia a máquina do banco,

os dígitos piscando como enigmas de outro tempo.

Ela respira fundo, ajeita os óculos,

e em cada toque hesitante há uma coragem miúda

de quem aprendeu que o tempo não espera,

mas também não vence.

 

Ao lado, Diego finge mexer no celular.

Por dentro, uma tempestade:

perguntas sem respostas, sonhos costurados com medo.

Ele fecha os olhos, conta até dez,

e encontra forças num lugar secreto,

onde ninguém aplaude, nem vê.

Mais adiante, um homem se abaixa —

Joelhos no chão duro do asfalto,

dedos ágeis refazem o laço do tênis da filha,

e no nó paciente há o desejo

de que ela siga firme, mesmo quando tropeçar.

 

A mudança, você percebe, não é um trovão,

tampouco um clarão repentino.

É um fio de água cavando a pedra,

uma semente insistente,

o silêncio de passos que não desistem.

 

No compasso do cotidiano,

as pequenas revoluções acontecem —

anônimas, persistentes,

dentro de cada um que escolhe tentar de novo.

 

E talvez, só talvez,

seja nessas horas mudas

que o mundo realmente se transforma.