O amor, às vezes, é um passarinho bobo
que entra pela janela aberta,
sem fazer barulho, sem pedir licença.
Faz ninho no coração,
e a gente nem percebe,
mas os cantos empoeirados da vida
ganham uns fiapos de sol.
O meu, por exemplo,
chegou assim:
um assobio antigo que a alma,
essa velhinha sapeca,
já conhecia antes do eco.
Desde então,
tua presença é um chazinho quente
que acalma os medos
e dissolve a pressa,
essa invenção maluca dos homens.
Você é o poste com luz
nos dias de nevoeiro,
e o vento na pipa
quando a gente hesita em voar.
Nos teus olhos, vejo mapas
que não estão em atlas,
mas que me levam para casa,
para um lugar que sempre foi meu.
E juntos,
vamos remendando a rotina,
com pedacinhos de afeto,
como quem costura uma colcha de retalhos
a cada novo amanhecer.
Nosso amor é a vírgula
entre duas frases,
o suspiro antes da próxima rima.
Não foi o destino,
essa invenção de quem não tem o que fazer.
Foi a vida,
essa senhora esperta,
que nos deu um empurrãozinho.
E se os dias mudarem de cor,
se a poesia desafinar,
sei que ainda assim
continuaremos a dançar.
Porque o que a gente tem
não se joga fora,
apenas muda de forma,
como nuvem no céu de outono,
e continua a nos guiar.
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Autor:
Sezar Kosta (
Offline)
- Publicado: 23 de maio de 2025 19:38
- Comentário do autor sobre o poema: Sabe quando a gente está distraído, olhando o nada, e de repente se pega sorrindo de um pensamento que nem sabe direito de onde veio? Foi assim que nasceu “O Amor Passarinho”. Veio leve, quase sem fazer barulho, como aquele vento que entra pela fresta e balança a cortina do coração. Acho que o amor, às vezes, gosta de fazer essas traquinagens. Ele não chega anunciando banda, chega de mansinho, com cara de quem já morava ali. Escrevi esse texto como quem conversa com uma lembrança boa. E se ele também te fez lembrar de alguém, ou de algum momento que aqueceu teu inverno interno, deixa um comentário. Vou adorar saber que esse passarinho também bateu aí na sua janela.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 13
- Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta, MAYK52
Comentários1
Há de facto muitos amores passarinhos. Que nos pousam nos beirais, e nas varandas do nosso sentir, sem pedir licença para entrar.
Gostei bastante, caro amigo poeta.
Abraço fraterno.
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