Sezar Kosta

O AMOR PASSARINHO

O amor, às vezes, é um passarinho bobo

que entra pela janela aberta,

sem fazer barulho, sem pedir licença.

Faz ninho no coração,

e a gente nem percebe,

mas os cantos empoeirados da vida

ganham uns fiapos de sol.

 

O meu, por exemplo,

chegou assim:

um assobio antigo que a alma,

essa velhinha sapeca,

já conhecia antes do eco.

Desde então,

tua presença é um chazinho quente

que acalma os medos

e dissolve a pressa,

essa invenção maluca dos homens.

 

Você é o poste com luz

nos dias de nevoeiro,

e o vento na pipa

quando a gente hesita em voar.

Nos teus olhos, vejo mapas

que não estão em atlas,

mas que me levam para casa,

para um lugar que sempre foi meu.

 

E juntos,

vamos remendando a rotina,

com pedacinhos de afeto,

como quem costura uma colcha de retalhos

a cada novo amanhecer.

Nosso amor é a vírgula

entre duas frases,

o suspiro antes da próxima rima.

Não foi o destino,

essa invenção de quem não tem o que fazer.

Foi a vida,

essa senhora esperta,

que nos deu um empurrãozinho.

 

E se os dias mudarem de cor,

se a poesia desafinar,

sei que ainda assim

continuaremos a dançar.

Porque o que a gente tem

não se joga fora,

apenas muda de forma,

como nuvem no céu de outono,

e continua a nos guiar.