O amor, às vezes, é um passarinho bobo
que entra pela janela aberta,
sem fazer barulho, sem pedir licença.
Faz ninho no coração,
e a gente nem percebe,
mas os cantos empoeirados da vida
ganham uns fiapos de sol.
O meu, por exemplo,
chegou assim:
um assobio antigo que a alma,
essa velhinha sapeca,
já conhecia antes do eco.
Desde então,
tua presença é um chazinho quente
que acalma os medos
e dissolve a pressa,
essa invenção maluca dos homens.
Você é o poste com luz
nos dias de nevoeiro,
e o vento na pipa
quando a gente hesita em voar.
Nos teus olhos, vejo mapas
que não estão em atlas,
mas que me levam para casa,
para um lugar que sempre foi meu.
E juntos,
vamos remendando a rotina,
com pedacinhos de afeto,
como quem costura uma colcha de retalhos
a cada novo amanhecer.
Nosso amor é a vírgula
entre duas frases,
o suspiro antes da próxima rima.
Não foi o destino,
essa invenção de quem não tem o que fazer.
Foi a vida,
essa senhora esperta,
que nos deu um empurrãozinho.
E se os dias mudarem de cor,
se a poesia desafinar,
sei que ainda assim
continuaremos a dançar.
Porque o que a gente tem
não se joga fora,
apenas muda de forma,
como nuvem no céu de outono,
e continua a nos guiar.