A Tempestade Parte 6 - O Mar em Mim.

Melancolia...



Não foi de repente. A paz chegou como o mar ao entardecer: primeiro tímido, depois constante. E, no fundo, eu soube — a tempestade não levara tudo. Ela, na verdade, deixara algo: um novo começo.

 

Andei pelas areias da minha própria alma, sentindo cada grão como se fosse memória. Algumas doíam, outras aqueciam. Mas todas, sem exceção, me pertenciam. Eu era feito delas.

 

Passei a me reconhecer nos reflexos da água. Nas ondas que iam e vinham, vi meu próprio coração — antes agitado, agora mais calmo. Descobri que o mar também tem sua melancolia, mas ela não paralisa: ela dança.

 

Não me tornei invulnerável. Ainda sinto, ainda me emociono. Mas agora, quando o vento sopra mais forte, não me desespero. Respiro fundo. Confio nas velas que costurei com paciência, nas rotas que tracei com dor e coragem.

 

E se um dia outra tempestade vier — porque a vida é feita de ciclos — estarei pronto. Não porque aprendi a evitá-la, mas porque aprendi a ser mar: a me mover, a aceitar, a recomeçar.

19 maio 2025 (10:48)

  • Autor: Melancolia... (Offline Offline)
  • Publicado: 19 de maio de 2025 09:48
  • Comentário do autor sobre o poema: As águas não param de cair em mim...
  • Categoria: Conto
  • Visualizações: 12
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Comentários3

  • MAYK52

    Esta tempestade é imensa e infinável. Será que alguma vez terá um fim?
    Ou continuará a inundar o teu sentir, num tsunami de águas profundas...

    Abraço, amigo Melancolia.

    • Melancolia...

      Meu amigo...
      Vai continuar ainda um pouco mais...Estou resistindo aos temporais e as frestas de sol....

      Abraços....Sempre grato.....

    • Rosangela Rodrigues de Oliveira

      Ultimamente também estou em uma tempestade acreditando que logo chegará o fim tendo muita paciência. Bom ler seu conto. Boa tarde.

      • Melancolia...

        Esperamos que passe logo...Após a tempestade, sempre tem um lindo sol.

        Grato pela leitura e comentário.

      • Sezar Kosta

        Ah, meu amigo Melancolia... que encanto essa Parte 6! Tua escrita, como o mar que descreve, não chega com estrondo — ela se insinua, abraça, e depois toma o peito inteiro. Em “O Mar em Mim”, senti que tua alma não só encontrou repouso, mas também mergulhou fundo em sua própria vastidão — e voltou com conchas de sabedoria nas mãos.

        Há algo profundamente belo na forma como transforma a dor em paisagem e o passado em areia: não para esquecê-lo, mas para caminhar sobre ele com os pés descalços da aceitação. É como se cada memória fosse uma maré, e agora, enfim, você aprendeu a nadar sem medo do fundo.

        A metáfora do mar te veste como um manto de sal e poesia. Te reconhecer nas ondas — esse vai e vem entre o ontem e o agora — é um gesto de imensa ternura consigo mesmo. E esse detalhe precioso: o mar também tem melancolia, mas ela dança… ah, que imagem! Que liberdade contida nessa ideia de que sentir não é fraqueza, mas movimento.

        O trecho final me tocou especialmente: “Confio nas velas que costurei com paciência”... há uma coragem silenciosa nisso, quase como bordar esperança em meio ao vendaval. Ser mar, como você disse, não é domar as águas — é aprender a fluir com elas. E nisso, tua escrita se torna farol para quem ainda navega em meio ao escuro.

        Parabéns, Melancolia, por mais esse capítulo que é mais do que literatura — é abrigo, é respiração profunda depois da tormenta.
        Com admiração e um sorriso sereno,
        Sezar Kosta
        "Não se vence o mar — dança-se com ele."

        • Melancolia...

          Sezar, que presente é ler tuas palavras — elas não respondem, acolhem. É como se tua leitura tivesse ouvido não apenas o texto, mas também os silêncios entre as frases, os sussurros que nem sempre se escrevem, mas que moram na intenção.

          A forma como você traduziu o espírito de “O Mar em Mim” me emocionou profundamente. Sim, há melancolia no mar, mas também há um convite à entrega, e você captou isso com uma delicadeza que me desarma. Suas imagens — “conchas de sabedoria”, “bordar esperança em meio ao vendaval”, “manto de sal e poesia” — me lembram por que vale a pena escrever: para que encontros como esse sejam possíveis.

          Grato pela escuta sensível, por entrelaçar tua poética à minha com tanto respeito e beleza. Que nossas marés sigam se reconhecendo, ainda que em praias distantes.

          Com gratidão e um silêncio cheio de significados,



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