Não foi de repente. A paz chegou como o mar ao entardecer: primeiro tímido, depois constante. E, no fundo, eu soube — a tempestade não levara tudo. Ela, na verdade, deixara algo: um novo começo.
Andei pelas areias da minha própria alma, sentindo cada grão como se fosse memória. Algumas doíam, outras aqueciam. Mas todas, sem exceção, me pertenciam. Eu era feito delas.
Passei a me reconhecer nos reflexos da água. Nas ondas que iam e vinham, vi meu próprio coração — antes agitado, agora mais calmo. Descobri que o mar também tem sua melancolia, mas ela não paralisa: ela dança.
Não me tornei invulnerável. Ainda sinto, ainda me emociono. Mas agora, quando o vento sopra mais forte, não me desespero. Respiro fundo. Confio nas velas que costurei com paciência, nas rotas que tracei com dor e coragem.
E se um dia outra tempestade vier — porque a vida é feita de ciclos — estarei pronto. Não porque aprendi a evitá-la, mas porque aprendi a ser mar: a me mover, a aceitar, a recomeçar.
19 maio 2025 (10:48)