ENTRE RAÍZES E TEMPESTADES DA DOR

Sezar Kosta

Num vilarejo onde o tempo esquece o passo, 

Elias, o velho jardineiro, sussurra à terra. 

Suas mãos, mapas de cicatrizes antigas, 

tocam o chão como quem traduz segredos.

 

Um garoto surge, olhos de dúvida: 

— Por que semear, se a tempestade vem? 

Se o vento vai arrancar folhas e sonhos?

 

Elias sorri, um brilho distante na pele: 

— Porque cada raiz conhece a sombra, 

e é no abraço do vendaval que aprende 

a se firmar, a crescer mais fundo, 

a segurar a vida no silêncio do escuro.

 

O menino insiste, o medo na voz: 

— Não seria melhor evitar a queda? 

Fugir do frio que corrói?

 

O velho olha o horizonte, onde o sol se esconde, 

e diz suave, como quem revela um segredo: 

— Eu tentei, sim, fechar portas e janelas. 

Fugir da dor, calar a tempestade. 

Mas a dor veio, e nela achei abrigo: 

um refúgio de calor, mãos que acolhem, 

e o perfume quieto de cada amanhecer.

 

O menino respira o silêncio, 

— Depois da tempestade, há paz?

 

Elias sorri, agora com luz nos olhos cansados: 

— Não só paz, há sabedoria, 

porque quem dança com as tempestades sabe: 

cada folha que cai é um poema ao solo, 

nutrindo sonhos que ainda vão florescer. 

 

E naquela tarde que se despede, 

o jardim respira, vivo, atento, 

como se cada raiz e cada folha 

guardassem o segredo do velho jardineiro.

  • Autor: Sezar Kosta (Offline Offline)
  • Publicado: 17 de maio de 2025 13:23
  • Comentário do autor sobre o poema: Sabe aquele momento em que a gente olha para o jardim da vida e pensa: “Por que plantar, se a tempestade vai derrubar tudo?” Pois é, me peguei nessa reflexão — e olha, não foi um papo sério e sisudo, foi mais como uma conversa comigo mesmo, dessas que a gente tem enquanto toma café ou espera o pão dourar na torradeira. Imagina o velho Elias, com suas mãos marcadas pelo tempo, falando que a dor é como o vento forte que só ensina a raiz a segurar firme. É engraçado pensar que a gente quer fugir da dor como foge da chuva, mas ela é justamente o que dá força para que a gente não seja levado pelo próximo vendaval. Minha inspiração veio desse abraço entre o medo e a coragem, entre o ontem que dói e o amanhã que promete florescer. E sabe o que eu quero? Que você também pense nisso — e se quiser, me conte aqui nos comentários qual tempestade você já dançou e que tipo de flor nasceu depois. Vamos conversar!
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 12
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Comentários +

Comentários1

  • Rosangela Rodrigues de Oliveira

    Sempre houve alto e baixo na minha vida e procuro ser forte mesmo com as tempestades pois sei que o sol voltará a brilhar tudo é uma questão de tempo e paciência, nada é eterno tudo finda para um novo recomeço. Lindo conto poeta. Parabéns. Boa tarde.



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