Num vilarejo onde o tempo esquece o passo,
Elias, o velho jardineiro, sussurra à terra.
Suas mãos, mapas de cicatrizes antigas,
tocam o chão como quem traduz segredos.
Um garoto surge, olhos de dúvida:
— Por que semear, se a tempestade vem?
Se o vento vai arrancar folhas e sonhos?
Elias sorri, um brilho distante na pele:
— Porque cada raiz conhece a sombra,
e é no abraço do vendaval que aprende
a se firmar, a crescer mais fundo,
a segurar a vida no silêncio do escuro.
O menino insiste, o medo na voz:
— Não seria melhor evitar a queda?
Fugir do frio que corrói?
O velho olha o horizonte, onde o sol se esconde,
e diz suave, como quem revela um segredo:
— Eu tentei, sim, fechar portas e janelas.
Fugir da dor, calar a tempestade.
Mas a dor veio, e nela achei abrigo:
um refúgio de calor, mãos que acolhem,
e o perfume quieto de cada amanhecer.
O menino respira o silêncio,
— Depois da tempestade, há paz?
Elias sorri, agora com luz nos olhos cansados:
— Não só paz, há sabedoria,
porque quem dança com as tempestades sabe:
cada folha que cai é um poema ao solo,
nutrindo sonhos que ainda vão florescer.
E naquela tarde que se despede,
o jardim respira, vivo, atento,
como se cada raiz e cada folha
guardassem o segredo do velho jardineiro.