Sezar Kosta

ENTRE RAÍZES E TEMPESTADES DA DOR

Num vilarejo onde o tempo esquece o passo, 

Elias, o velho jardineiro, sussurra à terra. 

Suas mãos, mapas de cicatrizes antigas, 

tocam o chão como quem traduz segredos.

 

Um garoto surge, olhos de dúvida: 

— Por que semear, se a tempestade vem? 

Se o vento vai arrancar folhas e sonhos?

 

Elias sorri, um brilho distante na pele: 

— Porque cada raiz conhece a sombra, 

e é no abraço do vendaval que aprende 

a se firmar, a crescer mais fundo, 

a segurar a vida no silêncio do escuro.

 

O menino insiste, o medo na voz: 

— Não seria melhor evitar a queda? 

Fugir do frio que corrói?

 

O velho olha o horizonte, onde o sol se esconde, 

e diz suave, como quem revela um segredo: 

— Eu tentei, sim, fechar portas e janelas. 

Fugir da dor, calar a tempestade. 

Mas a dor veio, e nela achei abrigo: 

um refúgio de calor, mãos que acolhem, 

e o perfume quieto de cada amanhecer.

 

O menino respira o silêncio, 

— Depois da tempestade, há paz?

 

Elias sorri, agora com luz nos olhos cansados: 

— Não só paz, há sabedoria, 

porque quem dança com as tempestades sabe: 

cada folha que cai é um poema ao solo, 

nutrindo sonhos que ainda vão florescer. 

 

E naquela tarde que se despede, 

o jardim respira, vivo, atento, 

como se cada raiz e cada folha 

guardassem o segredo do velho jardineiro.