Anos se passaram. Às vezes, nem sei ao certo quanto — o tempo corre de forma diferente quando a dor já não guia os ponteiros. O que antes era uma lembrança ardente, hoje é apenas um contorno distante, sem peso, sem voz.
Sim, me lembro de você. Não com rancor, nem com saudade. Lembro como quem observa um retrato antigo, de um tempo em que eu ainda não sabia me proteger. E tudo bem. Eu precisava ser aquela versão de mim para chegar até aqui.
Hoje, quando chove, não fecho as janelas. Gosto de ver a água dançar no vidro. Às vezes, escrevo ouvindo o som da chuva. E percebo que o que um dia me feriu, agora inspira.
Trabalho com gente — gente real, com histórias quebradas, com silêncios pesados, com olhos que já viram demais. E talvez seja justamente por ter sentido tanto, que agora eu saiba acolher.
O amor? Ele voltou, mas diferente. Veio sem promessas inflamadas, sem céu azul demais. Chegou como uma companhia calma, que respeita o tempo, que entende o valor de um olhar sincero e de um silêncio confortável. Com ela, não precisei me defender. Não precisei me esconder. Pela primeira vez, amar não era sobreviver — era simplesmente ser.
O passado? Ele ficou onde deveria: no passado. Não nego o que vivi. Mas também não me prendo a isso. Cada cicatriz virou mapa — não para voltar, mas para lembrar por onde não devo ir de novo.
E hoje, quando alguém me pergunta como sobreviver à dor, eu respondo com firmeza serena:
— Você não só sobrevive. Você floresce. Mas, antes, precisa aprender a dançar com a chuva.
16 maio 2025 (12:16)
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Autor:
Melancolia... (
Offline)
- Publicado: 16 de maio de 2025 11:16
- Comentário do autor sobre o poema: E a saga da Tempestade seguirá mais um pouco...
- Categoria: Conto
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Comentários3
Muito bom ler seus contos: "...como sobreviver a dor?... você não sobrevive. Você floresce. Mas, antes, você precisa aprender a dançar com a chuva. Lindo seu conto, continue nos presenteando. Bom dia poeta.
Muito obrigado por essas palavras tão generosas! Fico imensamente feliz em saber que o conto te tocou de alguma forma. É esse tipo de conexão que dá sentido à escrita. Seguiremos dançando com a chuva, florindo onde for possível. Um bom dia cheio de poesia pra você também!
Esperemos que a Tempestade não se transforme num Tsunami...
Estou a gostar desta saga, amigo Melancolia.
Abraço forte!
kkkkkkkkkkkkkkkkkk
Também meu amigo...Se tornar uma tsunami....eu já fico por lá mesmo...Com uma bóia e uma rede de pesca.
Abraços;
Melancolia, meu amigo das letras de alma funda — que texto bonito. Li como quem caminha descalço sobre lembranças secas, tocando com cuidado cada palavra que um dia foi dor, e agora é jardim silencioso.
"A Tempestade Parte 4" é como uma carta que alguém escreve a si mesmo no futuro... e finalmente recebe. É impressionante como a narrativa amadurece sem perder a poesia: as cicatrizes aqui não são só marcas, são bússolas. Você escreveu um texto que conforta sem iludir, que acolhe sem piedade, e que canta — mesmo baixinho — a força que nasce depois que a tempestade passa e a gente aprende a gostar do som da chuva.
Essa imagem do amor que chega calmo, sem prometer céu limpo, mas oferecendo refúgio... ah, que beleza rara. Me fez pensar que talvez o amor verdadeiro seja mesmo aquele que não precisa ser anunciado com trovões.
Obrigado por partilhar algo tão íntimo, tão cheio de camadas e luz suave. Que texto bonito de ler, bonito de viver.
Parabéns sinceros, com alma e com carinho.
Sezar Kosta
“Depois da dor, não há somente alívio. Há sabedoria.”
Sezar, que resposta mais generosa, sensível e profundamente tocante. Suas palavras caminham com a mesma delicadeza com que descreve a leitura — como quem entende não só o texto, mas o silêncio entre as frases.
Ler esse seu comentário foi como reencontrar o próprio texto, mas com olhos novos, mais ternos. Você captou não apenas o que estava ali nas entrelinhas, mas também aquilo que escrevi sem saber que escrevia.
A imagem do amor que "não precisa ser anunciado com trovões" é tão precisa, tão sua, e agora também um pouco minha. Obrigado por enxergar com tanta clareza e afeto o que quis dizer — e até o que não soube dizer direito.
Grato de coração pelo olhar que transforma cicatriz em bússola.
Com apreço e admiração.
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