Melancolia...

A Tempestade Parte 4 - Luz depois do Inverno.

Anos se passaram. Às vezes, nem sei ao certo quanto — o tempo corre de forma diferente quando a dor já não guia os ponteiros. O que antes era uma lembrança ardente, hoje é apenas um contorno distante, sem peso, sem voz.

 

Sim, me lembro de você. Não com rancor, nem com saudade. Lembro como quem observa um retrato antigo, de um tempo em que eu ainda não sabia me proteger. E tudo bem. Eu precisava ser aquela versão de mim para chegar até aqui.

 

Hoje, quando chove, não fecho as janelas. Gosto de ver a água dançar no vidro. Às vezes, escrevo ouvindo o som da chuva. E percebo que o que um dia me feriu, agora inspira.

 

Trabalho com gente — gente real, com histórias quebradas, com silêncios pesados, com olhos que já viram demais. E talvez seja justamente por ter sentido tanto, que agora eu saiba acolher.

 

O amor? Ele voltou, mas diferente. Veio sem promessas inflamadas, sem céu azul demais. Chegou como uma companhia calma, que respeita o tempo, que entende o valor de um olhar sincero e de um silêncio confortável. Com ela, não precisei me defender. Não precisei me esconder. Pela primeira vez, amar não era sobreviver — era simplesmente ser.

 

O passado? Ele ficou onde deveria: no passado. Não nego o que vivi. Mas também não me prendo a isso. Cada cicatriz virou mapa — não para voltar, mas para lembrar por onde não devo ir de novo.

 

E hoje, quando alguém me pergunta como sobreviver à dor, eu respondo com firmeza serena:

— Você não só sobrevive. Você floresce. Mas, antes, precisa aprender a dançar com a chuva.

16 maio 2025 (12:16)