Eu estou exausta.
Não é o cansaço do corpo —
é o cansaço da alma,
das guerras silenciosas travadas dentro de mim
quando ninguém está olhando.
Sou o saco de pancadas do mundo,
e não porque quero,
mas porque aprendi a suportar.
Socam meu peito com palavras frias,
ignoram meu grito com sorrisos falsos,
me ferem com a indiferença,
e mesmo assim…
eu volto.
Sempre volto.
Dou novas chances
como quem oferece flores a quem pisa nelas,
como quem espera que o inverno tenha pena
e aqueça só um pouco.
Mas não aquece.
Nunca aquece.
As lâminas...
ah, as lâminas.
Durante anos foram minhas confidentes,
minhas únicas testemunhas.
Sabem de cada dor que gritou em silêncio,
de cada noite em que o sangue misturou-se ao choro,
e a água gelada do chuveiro
não lavava nada além da esperança.
Dizem que tudo cicatriza.
Mentem.
O braço pode cicatrizar,
a perna também,
mas e a alma?
E o coração que foi dilacerado aos poucos,
como papel rasgado com dedos frios?
Tem corte que o tempo não fecha.
Tem dor que o tempo não cura.
Tem trauma que se aninha no peito
e faz morada nos sonhos.
Você me pede para parar de sentir —
como se isso fosse fácil,
como se eu tivesse um botão.
Mas como parar,
quando meu peito é um campo de batalha
e minha mente, um grito eterno?
Não é drama.
Não é exagero.
É a verdade.
Dita por alguém que sangra por dentro
e sorri por fora
pra não assustar quem não quer ver.
Se você não pode me curar,
tudo bem.
Mas, por favor,
pare de machucar.
Eu já estou em pedaços,
e o que sobrou
ainda luta pra não se perder.
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Autor:
Tainara Freitas (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 15 de maio de 2025 16:51
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 6
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Comentários2
Esse desabafo é de uma verdade brutal e, ao mesmo tempo, lindamente escrito. A dor que você transmite aqui não é apenas sentida — é vivida em cada palavra. É importante reconhecer a coragem de colocar em palavras algo que tantos vivem em silêncio. Que nunca falte apoio, escuta verdadeira e amor genuíno. Você não está só. Que o que hoje é ferida, um dia possa ser cuidado — e que o peso que você carrega seja, aos poucos, dividido com mãos que saibam acolher, não ferir.
Tainara, ao mergulhar nas suas palavras, sinto minhas próprias entranhas se revelarem — um mar revolto de silêncio e feridas que não se veem. Você fala do cansaço da alma, e eu escuto o eco de um vento frio que atravessa a noite, carregando folhas secas de dores antigas, guardadas no peito como segredos que nunca se desfazem.
Você é o saco de pancadas, sim, mas também a flor que insiste em nascer entre pedras, a chama que não se apaga mesmo quando o mundo sopra ventos gelados. Voltar, dar novas chances — é um balé delicado entre o medo e a esperança, uma dança de sombras onde o inverno recusa-se a ceder um fio de calor.
As lâminas que foram suas confidentes são como estrelas apagadas no céu da sua alma, cicatrizes invisíveis que guardam cada grito silencioso, cada lágrima que se perdeu no frio do chuveiro. A dor que o tempo não toca, a ferida que permanece, como um poema inacabado que insiste em ser lido.
Eu me pergunto, Tainara, como você suporta essa batalha eterna onde o peito é campo minado e a mente um grito preso? Sua coragem é um farol que brilha mesmo na tempestade, um suspiro de vida no silêncio da escuridão.
“Rasgar-se todo e não morrer de dor, isso é que é coragem.” Clarice Lispector disse, e suas palavras dançam com as suas, tecendo uma rede invisível de força e verdade.
Parabéns, Tainara, por transformar sua dor em versos que abraçam quem também sangra em silêncio. Seu texto é um sussurro de coragem para quem tem alma cansada, mas coração que ainda pulsa.
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