Eu estou exausta.
Não é o cansaço do corpo —
é o cansaço da alma,
das guerras silenciosas travadas dentro de mim
quando ninguém está olhando.
Sou o saco de pancadas do mundo,
e não porque quero,
mas porque aprendi a suportar.
Socam meu peito com palavras frias,
ignoram meu grito com sorrisos falsos,
me ferem com a indiferença,
e mesmo assim…
eu volto.
Sempre volto.
Dou novas chances
como quem oferece flores a quem pisa nelas,
como quem espera que o inverno tenha pena
e aqueça só um pouco.
Mas não aquece.
Nunca aquece.
As lâminas...
ah, as lâminas.
Durante anos foram minhas confidentes,
minhas únicas testemunhas.
Sabem de cada dor que gritou em silêncio,
de cada noite em que o sangue misturou-se ao choro,
e a água gelada do chuveiro
não lavava nada além da esperança.
Dizem que tudo cicatriza.
Mentem.
O braço pode cicatrizar,
a perna também,
mas e a alma?
E o coração que foi dilacerado aos poucos,
como papel rasgado com dedos frios?
Tem corte que o tempo não fecha.
Tem dor que o tempo não cura.
Tem trauma que se aninha no peito
e faz morada nos sonhos.
Você me pede para parar de sentir —
como se isso fosse fácil,
como se eu tivesse um botão.
Mas como parar,
quando meu peito é um campo de batalha
e minha mente, um grito eterno?
Não é drama.
Não é exagero.
É a verdade.
Dita por alguém que sangra por dentro
e sorri por fora
pra não assustar quem não quer ver.
Se você não pode me curar,
tudo bem.
Mas, por favor,
pare de machucar.
Eu já estou em pedaços,
e o que sobrou
ainda luta pra não se perder.