Tainara Freitas

Minha declaração

 

 

Eu estou exausta.

Não é o cansaço do corpo —

é o cansaço da alma,

das guerras silenciosas travadas dentro de mim

quando ninguém está olhando.

 

Sou o saco de pancadas do mundo,

e não porque quero,

mas porque aprendi a suportar.

Socam meu peito com palavras frias,

ignoram meu grito com sorrisos falsos,

me ferem com a indiferença,

e mesmo assim…

eu volto.

Sempre volto.

 

Dou novas chances

como quem oferece flores a quem pisa nelas,

como quem espera que o inverno tenha pena

e aqueça só um pouco.

Mas não aquece.

Nunca aquece.

 

As lâminas...

ah, as lâminas.

Durante anos foram minhas confidentes,

minhas únicas testemunhas.

Sabem de cada dor que gritou em silêncio,

de cada noite em que o sangue misturou-se ao choro,

e a água gelada do chuveiro

não lavava nada além da esperança.

 

Dizem que tudo cicatriza.

Mentem.

O braço pode cicatrizar,

a perna também,

mas e a alma?

E o coração que foi dilacerado aos poucos,

como papel rasgado com dedos frios?

 

Tem corte que o tempo não fecha.

Tem dor que o tempo não cura.

Tem trauma que se aninha no peito

e faz morada nos sonhos.

 

Você me pede para parar de sentir —

como se isso fosse fácil,

como se eu tivesse um botão.

Mas como parar,

quando meu peito é um campo de batalha

e minha mente, um grito eterno?

 

Não é drama.

Não é exagero.

É a verdade.

Dita por alguém que sangra por dentro

e sorri por fora

pra não assustar quem não quer ver.

 

Se você não pode me curar,

tudo bem.

Mas, por favor,

pare de machucar.

Eu já estou em pedaços,

e o que sobrou

ainda luta pra não se perder.