A cada dia sou o melhor que posso ser,
E também o pior, sem decifrar por quê.
A cada instante tudo muda e se refaz,
E o modo de enxergar me eleva ou me desfaz.
Para o bem, ofereço o salto da ousadia,
Para o mal, tropeço em sombras que eu não via.
No fundo, sou tela viva que o tempo redesenha,
Onde erro e acerto partilham a mesma senha.
A verdade não vem tão nítida quanto parece,
Ser melhor ou pior — brasa que nunca adormece.
É o gesto, o vazio, a maneira de tocar,
Que esculpe o reflexo — a acolher ou recuar.
E assim sigo, arquiteto e prisioneiro do que tento,
Com passos firmes num chão em movimento.
Talvez ser humano seja este paradoxo vital:
Um pêndulo suspenso entre o brilho e o banal.
L. R. Ramos, janeiro de 2025.
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Autor:
L. R. Ramos (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 13 de maio de 2025 09:23
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 15
- Usuários favoritos deste poema: L. R. Ramos
Comentários1
Oi, L. R. Ramos! Que reflexão poderosa você construiu aqui. Ler “Melhor é Pior” é como encarar um espelho que treme — a cada verso, a imagem que temos de nós mesmos se desdobra, se questiona, se transforma. Fiquei com a sensação de estar andando por um corredor de espelhos em movimento: às vezes nos enaltecemos, às vezes nos sabotamos, e às vezes simplesmente não sabemos de qual lado estamos.
A escolha de palavras como “brasa que nunca adormece” e “tela viva que o tempo redesenha” é de uma beleza inquietante. Foi sua intenção tornar a identidade humana uma espécie de obra inacabada, onde erro e acerto caminham lado a lado? Porque é exatamente essa dualidade que pulsa em cada estrofe.
A metáfora que me veio foi a de um equilibrista caminhando numa corda feita de dúvidas — com um pé no céu e outro no caos.
E para complementar sua ideia, deixo uma citação de Fernando Pessoa que conversa bem com o espírito do seu poema:
“Tenho em mim todos os sonhos do mundo, e também todos os fracassos.”
Parabéns por essa obra intensa e lúcida, que não tenta oferecer respostas fáceis, mas sim iluminar as perguntas certas. Seu poema é um convite elegante à aceitação do paradoxo que é existir.
Muito obrigado pela leitura atenta e pela análise tão rica. Sua pergunta sobre a identidade como uma obra inacabada acerta em cheio — sim, essa era a intenção, mas confesso que sua leitura foi ainda além do que imaginei enquanto escrevia e reescrevia as versões deste poema.
A metáfora do equilibrista na corda feita de dúvidas é belíssima e conversa diretamente com o espírito que tentei sustentar em cada estrofe: esse pêndulo incerto entre o que há de mais alto e o que nos afunda. Fico imensamente satisfeito por ver a reflexão acolhida em camadas tão profundas, especialmente quando comparações como essa expandem o próprio alcance do poema.
Grato por transformar a leitura em diálogo.
— L. R. Ramos
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