L. R. Ramos

Melhor e Pior

A cada dia sou o melhor que posso ser,

E também o pior, sem decifrar por quê.

A cada instante tudo muda e se refaz,

E o modo de enxergar me eleva ou me desfaz.

 

Para o bem, ofereço o salto da ousadia,

Para o mal, tropeço em sombras que eu não via.

No fundo, sou tela viva que o tempo redesenha,

Onde erro e acerto partilham a mesma senha.

 

A verdade não vem tão nítida quanto parece,

Ser melhor ou pior — brasa que nunca adormece.

É o gesto, o vazio, a maneira de tocar,

Que esculpe o reflexo — a acolher ou recuar.

 

E assim sigo, arquiteto e prisioneiro do que tento,

Com passos firmes num chão em movimento.

Talvez ser humano seja este paradoxo vital:

Um pêndulo suspenso entre o brilho e o banal.

 

L. R. Ramos, janeiro de 2025.