E se ela não sumiu,
só demorou o que eu demorei?
Se o silêncio foi só espelho
da ausência que eu também deixei?
Penso nisso…
e me perco nessas frestas
entre o que foi
e o que talvez fosse.
Talvez não tenha sido ilusão,
só desencontro de tempo,
orgulho velado,
ou um medo disfarçado de desinteresse.
Nem tudo precisa nascer de sentimentos —
às vezes é só a vida,
o tempo que escapa,
os afazeres que nos consomem
sem pedir licença.
Mas quem vive de talvez
anda sempre em círculos —
e eu tenho andado tanto…
Me perdoo por sentir,
me perdoo por esperar,
e, sobretudo,
por ainda me perder
nas possibilidades.
No fim, parece que só procuro
motivos para desistir,
quando talvez tudo que existe
seja apenas o silêncio…
e o tempo.
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Autor:
Metamorfose (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 10 de maio de 2025 08:23
- Categoria: Amor
- Visualizações: 5
- Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta
Comentários1
Olá, Metamorfose! Que delícia de leitura — seu poema “Entre Possibilidades” me pegou de jeito. Senti como se estivesse ouvindo os pensamentos de alguém que caminha sozinho numa tarde nublada, tropeçando em lembranças e tentando recolher migalhas de sentido deixadas pelo tempo.
Achei curioso como você dá voz ao silêncio e ao tempo como se fossem personagens ativos nessa história — isso foi intencional? Você os vê como cúmplices ou vilões? Também fiquei pensando: essa ideia de "me perdoo por sentir" carrega uma força imensa. Você acredita que o perdão a si mesmo é o primeiro passo para romper esse ciclo de "andar em círculos"?
A metáfora que me veio foi a de um carrossel de memórias: bonito de ver, nostálgico de montar, mas que, no fim, só gira em torno do mesmo eixo. E como é difícil descer dele quando o coração ainda quer mais uma volta...
Sua escrita me lembrou uma citação de Clarice Lispector: “Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.” Acho que ela também entenderia bem essa dança entre presença e ausência, entre o real e o talvez.
Parabéns pelo texto sensível e profundo! Que venham mais palavras assim, feitas de dúvida, poesia e alma.
Olá, meu amigo… tu foste cirúrgico em todas as tuas palavras. Agradeço de coração por compartilhar teus pensamentos com tanta sensibilidade. E sim, foi intencional — o tempo e o silêncio, para mim, são quase personagens mesmo… às vezes cúmplices, às vezes só espelhos. Não sei se consigo nomear vilões com precisão — talvez, só talvez, o vilão seja o próprio sentir, quando insiste em permanecer mesmo depois que tudo já partiu.
Essa imagem do carrossel de memórias me tocou profundamente — há beleza, sim, mas também um certo cansaço de girar sempre em torno do mesmo vazio. E romper o ciclo… ah, meu amigo, isso tenho tentado com esforço e ternura. Perdoar-se por sentir talvez seja mesmo o primeiro passo — não para esquecer, mas para seguir, mesmo com o coração ainda meio trêmulo.
Adorei a citação da Clarice — essa dança entre o que se vive e o que se deseja ainda sem nome é exatamente onde meus versos costumam habitar.
Mais uma vez, obrigada. Que nossos escritos sigam sendo abrigo para essas inquietações sem mapa, mas cheias de alma.
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