SE EU TIVER CORAGEM DE OLHAR PARA DENTRO

Sezar Kosta

Às vezes, deito-me na penumbra do quarto

e procuro meu rosto na superfície turva da janela —

ele escapa, dissolve-se em vapores do ontem,

esconde segredos nas dobras do escuro,

onde o silêncio se encosta aos meus passos.

 

O medo, velho viajante dos vãos do peito,

sussurra para eu não atravessar a casa vazia de mim.

Mas é no breve compasso da hesitação

que uma raiz de coragem se insinua,

frágil, mas insistente.

 

Vejo minhas mãos inquietas antes do abraço,

meus olhos desviando do vidro,

o receio dançando em silêncio ao redor do café fumegante,

enquanto o vento lá fora desenha mapas de fuga

nas cortinas que balançam.

 

Então, na pausa entre um pensamento e outro,

o silêncio se abre como uma clareira,

e encontro abrigo num sussurro de liberdade

que pulsa pequeno no coração —

asas que não voam, mas me erguem

quando o chão vacila sob os pés da dúvida.

 

A cada manhã, quando o tempo se estende

como um lençol novo sobre o corpo cansado,

dou-me outra chance de nascer:

danço entre as sombras que fui

e a luz que posso ser,

se eu tiver coragem de olhar para dentro

e deixar a manhã entrar,

sempre de novo,

luz na margem do silêncio.

  • Autor: Sezar Kosta (Offline Offline)
  • Publicado: 9 de maio de 2025 23:52
  • Comentário do autor sobre o poema: Sabe aquele momento em que a gente está deitado, olhando o teto, e de repente a janela parece esconder mais segredos que um baú de pirata? Pois é, foi numa dessas noites filosóficas, com o vento sussurrando mistérios e o café tentando acalmar a ansiedade, que nasceu esse poema. Acho que todo mundo já tentou, pelo menos uma vez, achar respostas no próprio reflexo – ou, quem sabe, fazer as pazes com as dúvidas que dançam pela casa. Se você se enxergou (ou se enxergou turvo) em algum verso, me conta aí nos comentários: quero saber como a vida se reflete na sua janela também!
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 12
  • Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta


Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.