Às vezes, deito-me na penumbra do quarto
e procuro meu rosto na superfície turva da janela —
ele escapa, dissolve-se em vapores do ontem,
esconde segredos nas dobras do escuro,
onde o silêncio se encosta aos meus passos.
O medo, velho viajante dos vãos do peito,
sussurra para eu não atravessar a casa vazia de mim.
Mas é no breve compasso da hesitação
que uma raiz de coragem se insinua,
frágil, mas insistente.
Vejo minhas mãos inquietas antes do abraço,
meus olhos desviando do vidro,
o receio dançando em silêncio ao redor do café fumegante,
enquanto o vento lá fora desenha mapas de fuga
nas cortinas que balançam.
Então, na pausa entre um pensamento e outro,
o silêncio se abre como uma clareira,
e encontro abrigo num sussurro de liberdade
que pulsa pequeno no coração —
asas que não voam, mas me erguem
quando o chão vacila sob os pés da dúvida.
A cada manhã, quando o tempo se estende
como um lençol novo sobre o corpo cansado,
dou-me outra chance de nascer:
danço entre as sombras que fui
e a luz que posso ser,
se eu tiver coragem de olhar para dentro
e deixar a manhã entrar,
sempre de novo,
luz na margem do silêncio.